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  • Yoga as the Decolonial Attitude of the Human Body

    By Mirna-Wabi-Sabi Read this article in English at: A Beautiful Resistance “Perdemos a ioga para o oeste, tudo bem. Ioga era uma atividade chata e passiva que as pessoas faziam de pijama. E aí os americanos se envolveram. E se tornou um esporte brutal.” (Zarna Garg) É verdade, parte da minha prática de ioga é abordar minha tendência de transformá-la num desafio radical ou numa competição acirrada contra mim mesma. Como ela disse, porém, está tudo bem. Os indianos sabem que não é do interesse de ninguém guardar a ioga ao ponto de ninguém no exterior poder praticá-la. Eles sabem que o ioga tem valor para a humanidade. Não é a única coisa de valor. Mas tem um imenso potencial para nutrir corpos e mentes. Me fascina como a ioga pode alcançar até as pessoas menos espirituais. Ainda estou para conhecer alguém que pense que ioga e meditação são uma farsa. Ou que tratar a mente e o corpo dessa forma é errado. No entanto, ela foi proibida em vários lugares (como no Alabama), mas suspeito que isso seja um sinal da sua eficácia, e não do contrário. Para quem não sabe, provavelmente não será uma surpresa descobrir que no período colonial britânico na Índia a ioga foi proibida. No primeiro encontro com os iogues, os europeus sentiram bastante repulsa pelo que não entendiam – como os iogues eram vistos pelos habitantes locais como iluminados, enquanto para eles parecia que essa condição era o resultado de algum tipo de ilusão. Não os comparar com os bruxos europeus da época foi, contudo, um sinal de respeito. (Página 36 de “Yoga Body” de Singleton, 2010.) Para os britânicos, cuja forma de exercício era trabalhar, cavar buracos, brincar com armas e assim por diante, a Índia deve ter sido um espetáculo e tanto. Um cara nu, de cabelos compridos, coberto de cinzas, meditando com os braços erguidos debaixo de uma árvore. Outro em parada de mão por horas a fio, e alguns carregando correntes. Todos sendo elogiados pelos colegas. Chocante foi o quão doloroso deve ter sido ficar fixado naquelas posições nada naturais. Era uma forma de loucura, certamente. “[O faquir-iogue] assume posições totalmente contrárias à atitude natural do corpo humano” (38). De acordo com a tradição supremacista europeia, presumia-se que os iogues eram tudo menos “seres racionais” (37). Nenhuma distinção foi feita entre as diferentes “ordens mendicantes” (37), pois, aos olhos do britânico, todas eram vegetativas, vagabundas, preguiçosas ou mesmo vaidosas. Como tal, para os cristãos, as posturas de ioga tornaram-se símbolos de quão absurda era a espiritualidade indiana. À medida que a perspectiva ocidental era insidiosamente injetada na sociedade indiana, os iogues eram marginalizados e muitas vezes forçados a fazer de si próprios um espetáculo para a sua subsistência, o que consolidou ainda mais o estigma. Mas nem todos foram subjugados por essa artimanha dos protestantes. “Bandos altamente organizados de iogues militarizados” tornaram-se uma ameaça espetacular à ordem colonial, causando danos financeiros significativos à Companhia das Índias Orientais. “A antipatia europeia pelos iogues não se devia apenas a sensibilidades morais ofendidas: os iogues também eram pessoas difíceis de pôr em ordem.” (39) E foi então que a lei foi usada para acelerar a mudança cultural ocidentalizante que os britânicos precisavam para continuar a lucrar na região. A ioga foi proibida. Além de andar nu e portar uma arma, o que, segundo o autor de Yoga Body, era a estética desses soldados iogues. (40) Apesar da marginalização e das proibições, durante os dois milênios e meio que os humanos praticam ioga (pelo menos), a prática continua a espalhar-se e a prosperar, compreensivelmente. Há uma ciência antiga nisso, que a ciência ocidental ainda está tentando compreender ou sistematizar. Quando uma conexão entre ioga e medicina começou a ser feita no campo médico, possivelmente em 1850 pela publicação A Treatise on the Yoga Philosophy, irrompeu uma resistência desenfreada a ela, com queima de livros e tudo (52). De alguma forma, foi considerado ofensivo sugerir que a filosofia da ioga realmente correspondia à realidade da anatomia humana. No entanto, a colonização deu origem a um estudo da ioga a partir de uma perspectiva miscigenada, literal e figurativamente, e já no primeiro encontro. Os anglo-indianos e os britânicos “indianizados” serviram de ponte entre a Índia e o Ocidente, e a influência fluiu em ambos os sentidos. Poucos povos colonizados podem dizer isso sobre sua experiência com seu principal colonizador. A influência que o Brasil teve sobre Portugal, por exemplo, é incalculavelmente pequena em comparação com a influência deles sobre nós. Embora eu saiba que os poderes constituídos na Índia provavelmente adotaram algumas das piores características do modus operandi europeu, nomeadamente a intolerância étnica e religiosa, não posso deixar de observar com admiração a resistência da civilização indiana. Apesar de ter uma prática espiritual distinta, tomo medidas para expressar meu respeito aos porta-vozes indianos do legado do ioga. Porque, sem eles, eu não estaria aqui colhendo os enormes benefícios desse conhecimento. É um pouco como citar suas fontes, em vez de plagiar. A simbiose entre corpo e mente é destacada pelo ioga de uma forma que revela muito sobre quem somos, e também sobre o que estamos passando nesse momento – é filosófico porque é físico, e vice-versa. Aqui estão alguns insights do dia a dia que a ioga me deu nas últimas semanas: Aceitação. De si, dos outros e do mundo. Mesmo que as pessoas e as situações possam nos irritar, ainda precisamos aceitar o que está acontecendo para lidar com isso de forma eficaz. Poder. É uma questão de disciplina e força. Não vamos tirar o poder de alguém ou de alguma coisa, vamos construí-lo para nós mesmos. Paciência. Apenas seja paciente. Algumas coisas levam tempo e melhoram com o tempo. Outras só precisam ser feitas, e a impaciência não ajudará a realizá-las. Combata a hiperestimulação. O tédio não é seu problema. Nessa era digital, somos constantemente bombardeados com conteúdo. A verdadeira ameaça à nossa satisfação não é o tédio. A necessidade de se entreter constantemente com conteúdo aleatório é a ameaça. Você pode ser honesto sem ser cruel. É o que é. Qual a diferença entre “é o que é” e aceitação? Aceitação é abraçar situações, pessoas, onde você está e com quem. “É o que é” é uma aceitação da Verdade, num sentido amplo. Aceite o fato de que a Verdade será e deve ser revelada. O amor é mais importante que a independência. Ser financeiramente independente é um ótimo objetivo. Mas não à custa da formação de laços de amor, onde é natural confiar e contar um com o outro. Não busque a perfeição. Se esforce para melhorar. Não há problema em cometer erros. Então, também não há problema em cometer erros em público. Não leve para o lado pessoal. Mesmo que seja pessoal. Nada existe no vácuo e nada é para sempre.

  • Eco-barriers and the rescue of balance between species on the planet

    Leia esse artigo em português aqui. Ocean pollution threatens the survival of all marine animals, and ours too. It’s difficult to understand the magnitude of the impact that litter has on our lives when we don’t see where it’s going, and how the path that leads to the extinction of so many aquatic species affects human life. Indigenous civilizations, that once survived in symbiosis with the fauna and flora of their regions, now don’t see the same diversity of life and mutualism between existences. The world is not the same. The question is how to move forward in this paradigm. A tool to understand which garbage travels which way towards the ocean makes it possible to identify the source and path of the problem of garbage pollution – the eco-barrier. This understanding helps us to act on the source and symptom of the problem caused by floating waste discarded by the urban population. Eco-barriers are barriers at the mouth of rivers, or outflow points in megacities. A 2011 study by Marcos Freitas points out that the accelerated growth of urban centers, increased consumption, inadequate municipal water management systems and garbage collection contribute to an exorbitant amount of garbage being discarded in rivers. In the context of Rio de Janeiro, only 3 eco-barriers in 2008 collected more than 100 tons of plastic, metal, wood and cardboard (M. Freitas 2011). Data like these are expected, but the interesting thing about this research was that it identified the source of the problem as not being so much “the increase in the production of household solid waste” but the increase in the municipal Gross Domestic Product. That is, increased consumption by individuals does not cause pollution in rivers as much as increased imports and exports, government spending and business investments. Government institutions and businesses are more environmentally irresponsible than individual consumers, and this has only become more evident since 2011. Today, there is an eco-barrier at the mouth of the João Mendes river, in the oceanic region of Niterói, maintained by a group of volunteers. It was funded by ecoponte, a company that manages the Rio-Niterói bridge, and is interested in offsetting its carbon footprint. And the barrier is managed by members of the AmaDarcy organization, whose objective is to protect the natural and urban environment through the preservation of ecologically important areas in the Serra da Tiririca region. According to a report developed by the group in February 2023, “The João Mendes (JM) is a polluted river, despite its crystalline source within the Serra da Tiririca State Park (PESET). Although a significant part of the sewage from the JM hydrographic basin is collected and sent to the Itaipu Sewage Treatment Station (ETE Itaipu), which operates with a nominal flow of 164 liters per second, there is a significant amount of sewage that is not yet directed to the ETE Itaipu and flows directly or indirectly into the João Mendes river and, consequently, into the Itaipu lagoon (Marine Extractive Reserve of Itaipu-RESEX Itaipu), generating its pollution.” “The amount of solid waste (garbage) that has been thrown into the João Mendes river weekly (about 250 kg) also contributes significantly to its pollution, evidencing precarious sanitary conditions. Since September 2022, the NGO AmaDarcy has been collecting garbage weekly at the eco-barrier implanted in the João Mendes river, located near the mouth of this river in the Itaipu lagoon. The total amount of garbage collected and bagged by AmaDarcy between September 2022 and January 2023 was more than 6 tons (more than one and a half tons per month), thus avoiding its disposal in the Itaipu lagoon and in the sea (RESEX Itaipu). The garbage is then removed and taken by the Cleaning Company of Niterói (CLIN) to an appropriate final destination.” The relationship between sewage and garbage pollution is evident when we consider uncontrolled urban expansion, without infrastructure and institutions effective enough to deal with this growth. As volunteers, the group's focus on floating litter makes sense when considering the distance this litter travels, and the difficulty of controlling that flow without these barriers – which don't impede the flow of the river, but fix surface debris in place until a team can collect it. This collection takes place weekly, and when possible, waste is sorted by material and weighed, despite sewage pollution in the area posing a threat to volunteers and instigating the need for cautious hygiene. The recorded data includes not only the type and weight of the garbage, but also the brands of discarded products, the height of the river, and the amount of rain on the day before and during the week of collection. Pluviometric Volume or Index is measured by millimeter of rain per square meter in a certain place and time. Source: (A627, from INMET) The materials found are plastic, glass, metal, fabric (plástico, vidro, metal, tecido), among others. Microtrash (Microlixo) is registered as a separate category, and means a mixture of small waste such as cigarette butts, microtubes of narcotics, fragmented Styrofoam, other plastics and plant parts that become entangled with this waste. Tetra pak is also registered separately, because they are those packages with a mixed composition of metal, paper and plastic, often used for products such as milk, juice and tomato sauce. There are other materials identified (outros), but not individually categorized, such as occasional toys, electronic waste, light bulbs, tires, mattresses, etc. While unidentified waste (não identificados) is the closed bags found at the barrier that are not opened because they may contain materials that pose a risk to the health of volunteers – such as syringes, razors, diapers, condoms, used toilet paper, etc. This data helps us identify the source of water pollution, and makes us aware of our own consumption and waste disposal. According to the 2011 research by Marcos Freitas, there is a correlation between the increase in family income and the increase in public waste, while domestic waste remains in the same range. This could mean that the increase in Gross Domestic Product (and perhaps climatic contexts) leads to "greater consumption in public areas". What does this mean for us and our consumption practices in public areas? What do we know about the waste disposal practices of the businesses we visit and the waste collection on behalf of our municipalities? The problem of waste disposal and ocean pollution has many facets. There is an issue of institutional administration, which reflects on the political decisions of a municipality—to overinvest in one thing while neglecting another. Urban expansion becomes harmful because of the failure of these political administrations, and financial interests which are far greater than each family's home. This is why the municipal Gross Domestic Product generates more environmental problems than the accumulation of individual consumption. On the other hand, community awareness and access to information about the environmental situation in our neighborhoods can not only improve personal consumption practices and waste disposal, but can also encourage the population to demand more responsibility from public administrations and more effective use of public funds. In the meantime, preventing literal tons of garbage from ending up in the ocean helps kick-start a rescue of biodiversity and the balance between species on this planet. _____ By Mirna Wabi-Sabi

  • The DNA of pollution in Rio's Guanabara Bay

    Text by Mirna Wabi-Sabi and photography by Fabio Teixeira Originally published August 2nd, 2023, in Brazilian Portuguese. Rio de Janeiro, Guanabara bay, July 1, 2023. The Brazilian Sanitation Panel states that more than 30% of the population of Rio de Janeiro does not have sewage collection (2021). Today, 18,000 liters (nearly 5 thousand gallons) of sewage per second are dumped into the Guanabara Bay, with state investment quadrupling in the last 3 years, reaching almost 1 billion reais. The expenditures are monumental, while the results are abysmal, and this fiasco would be easy to explain from the perspective of corruption and incompetence in the management of public resources. However, a cultural and historical analysis would better explain what causes these symptoms in the city's administrative processes. Data on costs and levels of pollution are evident, as well as the dangers of this pollution to public health. It has been known for at least 20 years, for example, the alarming rates of Hepatitis A in children in low-income regions of Rio de Janeiro. But these numbers do not lead to solutions by holders of governmental power. The problem is not a lack of money or awareness of the seriousness of the situation, but the legacy of the Hygienist model. The Hygienist movement was born in Brazil in the late 1800s and at the end of the Industrial Revolution. With the formation of urban-industrial centers during the Revolution, there was a massive increase in the population of Rio de Janeiro, and with it chaos, poverty, pollution and environmental destruction. This movement aimed to mitigate these metropolitan symptoms with the implementation of European urban models, which essentially manufactured ghettos. By utilizing the medical theories of European scientists, initiatives were promoted by hygienists which segregated poverty from wealth and destroyed natural environments through the 'beautification' of cities. The culture of European extractivism deals with the non-European environment as a source of resources for human beings, whether practical or aesthetic. It never promotes the balance of local ecosystems, it only promotes profit and high standards of living for those who profit. Therefore, the manufacturing of ghettos guarantees 'Hygiene', as defined by the movement in terms of education and health, in an insular way. The Hygienist model is the manifestation of the expression 'sweeping under the rug'. As long as urban insalubrity was not seen by elites in city centers, it would be as if it did not exist. In other words, it's as mature a system as a game of peek-a-boo. Since cities came to be, the conditions of urban insalubrity have been a class issue with disastrous environmental and human repercussions. In the article "The Hygienist Movement" on the history of private life in Brazil, Edivaldo Góis says that many of the hygienists saw "the lack of health and education of [Brazilian] people [as] responsible for our backwardness in relation to Europe." Being that numerous diseases, customs, and management models from Europe were responsible for this impropriety. A people that promotes class division does not accept the natural reality that the ecosystem does not respect social segregation. Sooner or later, the pollution of a portion of the ocean or of an urban body of water becomes pollution on prime beaches, and 18,000 liters of sewage per second in the Guanabara Bay is a worldwide problem. In the 1990s, 1 billion US dollars were spent on the Guanabara Bay Cleanup Program (PDBG) after alarming evidence of cases of Hepatitis A in children in Duque de Caxias. Even with massive funding from a global source, the results were horrifying. Sewage treatment centers were built but they were never functional, accountability and late payments pointed to poor financial management by the state, hundreds of millions of US dollars were wasted in interest rates, and this failure cannot be attributed to institutional stupidity alone. Now billions of reais are being spent again on infrastructure projects, which are already delayed, to solve this persistent pollution problem of the last century. Rio de Janeiro, entre 2015 e 2019. Sanitation in low-income regions is a challenge today because for more than a hundred years, the class divide fostered by the legacy of the Hygienist movement has disembodied these geographic spaces from "epidemiological surveillance activity" as well as individual provision of sanitation resources. The idea that what is private exists in symbiosis with the public, rather than resulting in the investment of public resources in improving the private environments of low-income individuals, has resulted in reactionary justifications for eugenics. That is why, instead of investing in improving the structures of family and individual homes in poor regions, they invest in a "belt" for collecting sewage around the bay. This means that the sewage that leaves these areas is captured and prevented from affecting noble areas, but the individual context of the residents remains the same. According to a "conceptual study" on this 'belt', the obstacle to "universal sanitation" is cost. The estimate in the report is 1900 reais per inhabitant, totaling more than 33 billion reais in Rio de Janeiro. Since the financing of 1 billion dollars in the 1990s was equivalent to just over 5 billion reais, the price "far exceeds the contribution of resources to the sector". However, 33 billion refers to the cost for the population of the whole state of Rio (not just the city), and the 1 billion dollar funding was specifically aimed at cleaning up the Guanabara Bay. The rivers that pollute the Guanabara Bay the most permeate the geography of the city of Duque de Caxias, called Sarapuí and Iguaçu. If 1900 reais per inhabitant is a reliable estimate, with less than 1.5 billion reais it would have been possible to bring sanitation to the entire population of Duque de Caxias, which between 1991 and 1994 was made up of less than 700 thousand people. But instead of proposing precise strategies, focusing on contextual and local needs, the report soon makes parallels with European and U.S. American models of sanitation. In doing so, it reveals itself to be a descendant of the Hygienist movement. The organization responsible for the report, FGV CERI, explicitly positions itself as interested in an infrastructural development centered on economic growth. For them, infrastructure regulation in the country, even when it involves the environment and public health, revolves around one objective only: "attracting investment". Thus, sustainability fosters the nation when it is economic and financial. Quantifying a socio-environmental problem such as pollution in the Guanabara Bay is not always easy. How many liters of sewage are being dumped illegally? How much does basic sanitation cost per person? How many children have become ill from polluted water bodies in their areas? In this case, the numbers are evident and the reality is inescapable. What is missing is the analysis of the historical and cultural, or genetic, context that leads to these alarming and persistent results. From the creation of the Hygienist movement in Rio de Janeiro, today we are at least the fifth generation to witness the disastrous development of the metropolis that leans over and suffocates this bay. It is necessary to know what was inherited from the DNA of this city, which was named after this magnificently unusual body of water – Guanabara. _ Text by Mirna Wabi-Sabi Photography by Fabio Teixeira

  • The Unhoused of Humanity

    Written by Mirna Wabi-Sabi Photographed by Fabio Teixeira Photographic series: "Unhoused people work with recyclable waste and are sick", by Fabio Teixeira. May 17, 2024. Rio de Janeiro, Brazil. A Scottish philosopher once wrote, “a chain is no stronger than its weakest link”. Before that, the Basque had probably already coined the proverb, “a thread usually breaks where it is thinnest”. This sentiment is still very much alive today, and it endures for centuries for one simple reason: humanity has weaknesses. In this dawn of the 3rd millennium, after hundreds of thousands of years humans have roamed this beautiful planet, it’s hard to look around and believe we have been using our abilities to strengthen the links between peoples or to thicken the thread of our humanity. In fact, to roam the streets of Rio de Janeiro, considered by many one of the most beautiful cities in the world, anyone with a heart must divert their eyes often from things that will fill it with despair. Few things reflect humanity’s repeated failure to evolve more than homelessness. At the age in which wealth and technology shoot through the roof, it’s never been clearer that poverty is not about a lack of resources available. Brazil’s homeless population has been consistently growing in the last decades, approaching 300 thousand . In Rio, it is said that there are about 8 thousand people living in the streets. News headlines with impressive numbers are always popping up, “Homeless population grows 211% in the last decade”, “Census identifies 7,865 homeless people in the city”, “ New government program provides assistance to homeless people ”. But to research beyond the headlines, and to engage personally with the subjects reveals a different story. Firstly, not even half of Brazil’s municipalities  count the amount of people who are unhoused in their communities. This means that numbers are wildly inaccurate. Even organizations dedicated to providing services to unhoused populations in Rio de Janeiro, governmental or independent, which are located in areas of the city which are known to have large concentrations of them working or settling, have no significant idea of the numbers, locations and ailments of the people they set out to serve. Around Rio’s Guanabara Bay, it is well known that groups of unhoused people gather, often sorting through domestic and industrial waste. The photojournalist Fabio Teixeira has documented some of the work these people, who prefer to remain anonymous, have been doing, as well as some of the unsurprising health issues that stem from this paradigm. Specifically, he has observed that informal recycling initiatives, done by people without consistent access to privacy, running water and basic sanitation, leads to an epidemic of eye infections. When faced with the realization that they are losing their sight, they help each other with resources at hand. Shelters financed by the municipality are not authorized to speak with the press directly. All communication must go through the city hall’s press office, or the ministry of health’s press office. This office has a copy-and-paste response with numbers about the reach of the newest government program focused on the "re-socialization of the homeless population". These programs  involve sending nurses, psychologists, and social workers to the so-called “streets”. This is the approach where it is believed that if these people’s minds and bodies are treated, naturally, they will be able to reinsert themselves into society by getting jobs and housing themselves. Reality, however, has shown that being on the street is what causes the vast majority of the psychological and physical ailments in the community, not the other way around. Therefore, the only way to successfully address these health issues is to provide housing first and foremost. “The main health issues diagnosed by the Consultório na Rua  teams [Street Clinic] are sexually transmitted infections such as syphilis, HIV, viral hepatitis, issues related to mental health and drug use, high blood pressure, tuberculosis, chronic wounds, among others. And the main situations that directly affect the health conditions of these people are food insecurity, difficulty accessing drinking water, sleep deprivation, exposure to heat, cold or rain.” (Ascom press Office) By “directly effect” they mean “causes”. The state of being unhoused is the main cause of these health issues, and yet, the solution remains: treating symptoms as they are encountered on the streets. Independently funded initiatives, NGO’s, are even less equipped to address the root of the issue. One organization dedicated to the “social reintegration of homeless people” in Rio’s city center described their biggest achievement as existing for 8 years, and having won an award once. Reportedly, their biggest obstacle is “fund-raising”, as opposed to achieving what they need the money for. These communication debacles may be indicative of an ugly truth, not about the unhoused, but about the housed. Our cities have human beings who are unsheltered by humanity. The ‘ Secretariat of Social Assistance ’ in Rio de Janeiro needs to specify that they are not legally allowed to engage in the “removal” of a homeless person, and that speaks volumes about what kinds of requests they receive from the general public. While much of the housed population approaches the issue of homelessness as if it was waste management, those in the social work field demonstrate shallow understandings of the reality so many Brazilians in extreme poverty face. To approach homelessness outreach as a “re-socialization” project implies that what these people living in the streets need is to learn certain behaviors in order to return to society. In reality, they’ve never left society, they are the most vulnerable link in it. The unhoused and housed populations are not only sharing spaces in cities, but they are intrinsically connected through the foundation of how our society has been operating. Inaccessible housing is directly tied to the real estate industry and all those who engage with it in order to be housed. The more our society perceives homes as an investment opportunity, as opposed to a basic human necessity in this day and age, the more the unhoused population will grow. And the only reason why this isn’t enough to provoke a shift in this system, is because we, the housed population, have been convincing ourselves that homelessness is a problem caused by the homeless and their behaviors and life choices. Upon further inspection, much of the housed population would realize that almost every waking moment is spent working or thinking about working to keep a roof over our heads, with the exception of those who are born into incredible wealth. Although individuals may not be able to single-handedly resolve the housing issue in their communities, our society, it’s values as well as its resources, is certainly able to. This will require a long-term and large-scale shift in perspective. In the meantime, the least we can do as individuals is separate organic waste  for composting and wash our inorganic domestic waste to prevent infections in people who provide us with the service of informal recycling. The weak link in this chain of peoples of humanity is perhaps the meritocratic and individualistic values of housed populations in late capitalism – one which washes its hands of any human ties with the unhoused. Next time we ask ourselves, the unhoused population is “ whose responsibility ?” The answer is, everybody’s. Only then, will the thin thread of our humanity thicken.

  • Oil trader, Gunvor, pleads guilty to a decade of corruption in the Amazon Region

    by Mirna Wabi-Sabi Gunvor, one of the biggest crude oil traders in the world, will pay over 600 million dollars in fines for its bribery of government officials in Ecuador. Shell companies and intermediaries were used to pay these officials, who in turn, secured oil purchase contracts. According to the Stand.earth Research Group, such schemes are responsible for devastating oil spills which destroy populated and ecologically fragile areas of the Amazon Forest, and for keeping Latin American countries dependent on fossil fuels and hostage to debt. Continue reading this article in English at A Beautiful Resistance (.org) A Gunvor, um dos maiores comerciantes de petróleo bruto do mundo, pagará mais de 600 milhões de dólares em multas pelo suborno de funcionários do governo no Equador. Foram utilizadas empresas de fachada e intermediários para pagar esses funcionários, que por sua vez garantiram contratos de compra de petróleo. De acordo com o Grupo de Pesquisa Stand.earth, tais esquemas são responsáveis ​​por derramamentos de petróleo devastadores que destroem áreas povoadas e ecologicamente frágeis da Floresta Amazônica, e por manter países latino-americanos dependentes de combustíveis fósseis e reféns de dívidas monumentais. Os graves derramamentos de petróleo causados ​​por rupturas em oleodutos malconservados têm efeitos mortais a longo prazo para as comunidades indígenas próximas, bem como para a fauna e a flora locais. Segundo a Public Eye, uma organização dedicada a denunciar o impacto que as empresas e instituições suíças têm “em países mais pobres”, a “taxa de câncer nessas regiões petrolíferas foi a mais alta do mundo” nos anos em que Gunvor subornou funcionários públicos. A exploração petrolífera da região começou anos antes com a Chevron, cujos locais poluídos foram denunciados por Roger Waters enquanto fazia campanha contra Bolsonaro e a sua abordagem catastrófica ao extrativismo na Floresta Amazônica. Após a transferência das operações da Chevron para a Petroecuador, a nacionalização não proporcionou qualquer proteção à região contra novas catástrofes nas mãos da Gunvor. O Equador, que já estava financeiramente vulnerável após a exploração implacável por empresas estrangeiras e uma tentativa falhada de fazer a Chevron pagar pelos danos que tinha causado, viu-se mais uma vez subjugado pelo capital ocidental. O que os comerciantes petrolíferos multinacionais fizeram foi utilizar a sua própria linha de crédito para emprestar dinheiro à empresa petrolífera nacionalizada do Equador, a taxas de juros predatórias, e, ainda por cima, subornar funcionários para que esses contratos fossem assinados. Essas dívidas de bilhões de dólares com taxas de juros desfavoráveis ​​incluem a necessidade de fornecer petróleo bruto ao comerciante. Ou seja, não só a instituição equatoriana é mantida refém da própria dívida, como também fica dependente da extração de petróleo e da exploração de seus recursos naturais por anos. Em contradição com a ideologia capitalista que justifica essas abordagens extrativistas de recursos naturais em favor do lucro e da estabilização da economia global, não houve competição entre os comerciantes. Juntos, eles “monopolizaram o mercado do petróleo bruto amazônico”. Como tal, em 2009, a Gunvor comprou um dos seus comerciantes irmãos, Castor Petroleum, cujo vice-presidente acabou sendo localizado pelo FBI e implicado no processo judicial que levou à multa de 662 milhões de dólares. A Public Eye descreveu apropriadamente esse desastre como um “círculo vicioso que impacta negativamente as necessidades da população e do meio ambiente” em favor da ruína financeira perpétua, da aniquilação da natureza, e da subjugação dos sul-americanos às instituições ocidentais e aos seus lucros. Essa não é a primeira vez que a Gunvor é acusada de atividade criminosa. Em 2019, ela pagou quase 100 milhões em um caso de suborno de funcionários do governo na Costa do Marfim e no Congo – um caso que a Transparency International usa como exemplo de crimes corporativos ocidentais em “países aparentemente livres de corrupção”. Em 2017, a Gunvor foi acusada de contrabandear petróleo russo através da Bielorrússia para evitar impostos. E em 2010, telegramas da Embaixada dos EUA do WikiLeaks a colocaram como uma das “fontes de riqueza não declaradas de Putin”. Agora que houve maior repercussão, meros 662 milhões para uma empresa que lucra mais de 1 bilhão por ano, com uma receita superior a 100 bilhões, e que continuará a operar normalmente – para onde irá esse dinheiro da multa? Será investido na reparação dos danos causados ​​à Amazônia e à sua população? Logo após o escândalo de suborno ter vindo à tona, em 2021, o CEO da Gunvor, Torbjörn Törnqvist, disse à Reuters que planeava “expandir” as suas operações para a Rússia. Isso foi pouco antes da invasão da Ucrânia, mas não deve ter sido uma surpresa, uma vez que Törnqvist já tinha comprado a parte da empresa do seu parceiro russo em 2014 para evitar sanções devido à anexação da Crimeia pela Rússia. Hoje, ele afirma estar numa “jornada de sustentabilidade”, a partir de 2023 rastreando as “emissões da cadeia de abastecimento” da Gunvor com a ajuda de uma empresa terceirizada dedicada a alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU para bancos e comerciantes multinacionais. Não é de surpreender que em nenhum lugar dessa jornada de sustentabilidade haja reparação de qualquer dano real causado à Floresta Amazônica e aos seus povos. Existe apenas uma declaração corporativa sobre a coleção vaga de dados sobre as emissões de CO2, admitindo que ainda não se recolhem dados sobre emissões de metano ou qualquer outro gás de efeito estufa. Empresas que continuam a expandir mesmo depois de denunciadas como criminosas, como a Gunvor, alcançam a impunidade ao se estabelecerem como indispensáveis. No entanto, eles são dispensáveis. Há dinheiro e tecnologia suficientes para alcançar os objetivos climáticos dos nossos sonhos com dignidade. O Grupo Gunvor agora anuncia que, pela primeira vez, está investindo na geração de energia como uma alternativa à dependência dos combustíveis fósseis que eles endossaram criminalmente e da qual lucraram durante décadas. Essa é uma decisão orientada para o lucro, liderada por mudanças inevitáveis ​​no mercado, mudanças que eles passaram décadas tentando impedir ou atrasar a todo o custo. Essa “jornada” é melhor do que nada? Quais garantias existem de que essas declarações corporativas não sejam apenas mais um esquema que prolongará a vida de um empreendimento destrutivo e ilegítimo? _____ Mirna Wabi-Sabi é editora chefe da Plataforma9.

  • ‘Civil War’ Exposes the USA as Vincible

    You can read this article in english here. Por Mirna Wabi-Sabi Originalmente publicado na Le Monde Diplomatique Estrelando Wagner Moura, o filme sinaliza que, mesmo repleta de armas militares pesadas, a narrativa revela-se o elemento mais mortal da história Este mês, o filme Guerra Civil estreou nos cinemas com uma mensagem de nuança, mas clara: a “América” como nós a conhecemos pode, muito bem, chegar ao fim em breve. A escalação da estrela brasileira Wagner Moura é calculada, destacando a ambiguidade e a complexidade das relações raciais nos EUA. O personagem brilhantemente aterrorizante de Jesse Plemons coloca uma questão real ao personagem de Moura quando confrontado com a informação de que eles são “jornalistas americanos”, questionando “que tipo de americano você é, centro, sul?” Não é fácil colocar os brasileiros na narrativa norte-americana sobre o que são os “latinos”. Sendo a população não-hispânica mais substancial da América do Sul, tudo o que um supremacista “americano” precisa saber é que não somos brancos. A narrativa, porém, é uma arma de guerra poderosa, se não a mais poderosa de todas. Há tremenda violência física no filme, como é esperado na guerra. Isso sinaliza duas coisas. Uma delas é: qual é a sensação de testemunhar o horror da guerra, que está atualmente em curso no mundo, mas em vez disso em solo estadunidense? E a segunda é que, mesmo repleta de armas militares pesadas, a narrativa revela-se o elemento mais mortal. A população dos Estados Unidos está dessensibilizada à brutalidade daquilo que o seu governo endossa e perpetra em outros países. Não é horrível testemunhar a destruição de tudo o que você ama? Ver entes queridos morrerem, as suas instituições mais poderosas tornarem-se obsoletas e o seu futuro ser interrompido; é isso que este filme explora. O mais interessante é que o filme explora a dificuldade de abraçar uma narrativa coerente que explique toda essa aniquilação, ou que de alguma forma justifique o derramamento de sangue. Enquanto o presidente continua a espalhar falsidades ao público, soldados supremacistas desprezam (e matam) qualquer um que não tenha nascido e sido criado nos Estados Unidos da América, e os revolucionários simplesmente matam qualquer um que esteja ativamente tentando matá-los. De certa forma, é tão simples quanto isso. Mas, ao mesmo tempo, há pouca ou nenhuma explicação para a violência. Os filmes anteriores de Wagner Moura no Brasil foram notoriamente politicamente ambíguos, e esse segue o exemplo. Ele nunca demonstrou interesse em fazer propaganda esquerdista simplista, mas considera absolutamente necessário desencadear um debate sobre o absurdo das situações políticas em que nos encontramos. Mesmo que isso signifique deixar espaço para interpretações políticas opostas dessas histórias. Não há melhor maneira de transmitir essa nuança de posição do que através do trabalho de jornalistas impossivelmente imparciais. A forma como os jornalistas constroem a narrativa baseia-se na crença de que ela deriva de um ponto de vista neutro. Em teoria, o jornalismo conta a história, não influencia nem endossa os acontecimentos que relata. Esse filme pode não afirmar explicitamente que a Casa Branca deveria ser destruída, mas procura mostrar como ela pode sim ser obliterada. A justificativa para isso poderia ser simplesmente que toda a guerra decretada e executada no estrangeiro acaba chegando nas portas de nossas casas. A personagem de Kirsten Dunst descreve isso como o propósito fracassado de seu trabalho como fotógrafa de guerra internacional – foi um aviso ignorado em casa. Portanto, o jornalismo tem um propósito político, porque sem propósito ninguém arriscaria a vida para fazê-lo. Dominar a arte de criar uma narrativa convincente é demorado, útil, poderoso e consideravelmente mais desafiador quando se busca a verdade. Nunca será uma verdade imutável, porque é uma construção. Mas é verdadeira para alguma coisa; valores, objetivos honestos ou um propósito transparente. O filme Guerra Civil mostra o que pode acontecer quando negligenciamos esses objetivos, perdemos a clareza desses valores e desistimos do propósito pelo qual fazemos o que fazemos. A forma como interpretamos acontecimentos ou justificativas para ações está diretamente ligada à narrativa construída em torno deles. Essa narrativa não é a única e não é suprema. Ela foi criada por alguém com um propósito. Escolhemos, conscientemente ou não, adotar uma narrativa um em detrimento de qualquer outra. A primeira cena de Guerra Civil é uma representação de como a narrativa que a Casa Branca profere, do excepcionalismo norte-americano, já não é mais convincente – nem mesmo para o presidente, cuja função é vender a história. No centro da disputa política, que descamba para a guerra em solo estadunidense, está o fato de que os estadunidenses deixaram de acreditar na imagem da “América” como invencível. Essa mudança na narrativa é o que leva as forças revolucionárias armadas a assumir o controle. No filme, não precisamos saber quem são esses revolucionários, ou qual presidência está supostamente sendo representada. O que importa é o quão frágeis realmente são os Estados Unidos da América, a terra da liberdade. No final, há uma explicação simples para tudo o que acontece: se você é implacavelmente atacado, o que mais há a fazer senão revidar? _________ Mirna Wabi Sabi é escritora, editora, e fundadora da Plataforma9. É autora do livro Anarco-transcriação e produtora de diversos outros títulos da editora P9.

  • “This is not a drill” by Roger Waters arrives in 'Brasil' invoking Resistance

    The first show of Roger Waters' 'This is Not a Drill' tour took place in an auditorium in Pittsburgh, on July 6, 2022. On October 24, 2023, the tour debuted in Brazil’s capital, reconfigured for stadiums. The set list, the political message and the visual identity are the same, but being in the open air guarantees a renewed experience. There is no longer the 360-degree cross-shaped auditorium stage configuration, but it was possible to see the moon during ‘Dark Side of the Moon’, highlighted by spectacular lasers. Between the first show of the tour and the first show of the tour in 'Brasil', Roger Waters dealt with several political attacks, protests calling for the cancellation of his shows — especially in Germany — documentaries accusing him of anti-Semitism, and scrutiny from critics and audiences for his political positions. In response, Waters expressed genuine disappointment, questioning why he has now become the target of such scrutiny for political messages he has publicly espoused for half a century. Since the late 1960s, concerns about nuclear war, world leaders disregarding human rights, and the brutality of global elite greed have been central not only to Roger's life but to his art. It's inspiring and honorable to see an artist like him use his talent and fame to do what he can to make positive and necessary changes in the world. Throughout his career, it is possible to observe an artistic and political communication strategy that uses characters and narratives to convey a message. Roger, in fact, is more than a musician, he is a storyteller. As a storyteller, he idealizes characters and places them in narratives that express the worst-case scenario imaginable. By staging explosions, shootings, deaths, war crimes, fascist leaders, and reckless capitalists, he not only presents this worst-case scenario, but also shows how close we really are to it. It's a cold bucket of water that brings you back to reality and makes you see a frighteningly close future — which we need to prevent. The character of The Fascist leader that Waters played before the tour arrived in Brazil was performed accompanied by a machine gun and obedient soldiers. In Brasília, he was presented in a wheelchair, wearing a straitjacket, accompanied by hospital orderlies. He has gone completely mad and must in no way be listened to. For years, this character has represented political power, and how it is centered on deranged individuals. Waters is explicit about how Resistance to them is essential. Resistance, for Roger, can happen in different ways. Resistance is a material process, like indigenous and Palestinian people fighting to regain control of their lands. And it is also a social process, through dialogue and mutual support. When he invoked indigenous, Palestinian, reproductive, and trans rights, most of the audience was moved and they celebrated. It makes a wide section of the Brazilian population, who fight for these rights regularly, feel recognized and supported. But not everyone shares this vision. It is possible to observe the discomfort of some individuals with the criticism of capitalism. I heard at least once, “look at the communist coming to a capitalist show. I bet Roger Waters is making a lot of money.” Besides, Roger unquestionably endorsed Lula on stage. It is possible that this call to resist capitalism will be difficult to absorb in Brazil. Because the conception of capitalism, in a country that dealt with a dictatorship which utilized the word “military” instead of “capitalist”, interprets Capital as a synonym for Income. There is no need to invoke jargon from communist theory to analyze the failure of conflating these concepts. Roger Waters works and produces — art. If all working people were properly remunerated for their work in the capitalist system, there would be no need to resist it. But that is not the reality, and never has been. Waters is wise enough to recognize that just because he has managed to build a career that pays him generously for his work, does not mean that this is the reality for the entire world or that this system works for humanity. It's difficult to understand how Roger Waters' vision for a better world is not unanimous. However, resistance against war, greed, fascism, racism and other ideologies that aim to eradicate human diversity can only be unanimous in a world where these harmful ideologies no longer exist or are in decline. If we all agreed that this violence should end, we would not resist, we would build a new world together. Roger Waters in 'Brasil' Given current geopolitics, it is clear that genocidal ideologies are not in decline and have endured throughout history. Therefore, resistance remains essential, and this is the central message of ‘This is Not a Drill’ by Roger Waters. We may differ or even disagree about which tools to employ in this resistance, but he demands of his audience to at least participate in this conversation. His art transcends music. It is folklore, theater, friendship, activism, and of course — resistance. But music is still central. As I said last year in my review of the first show of this tour in Pittsburgh, “the guitar solos and back-up singer singalongs are bound to gratify any die-hard Pink Floyd fan. While the dynamic ebbs and flows of the set list, not to mention the fantastic saxophone solos, are bound to keep any music enthusiast moving.” And that continues to be true. Some of the most beloved songs of all time are played authentically and faithfully, creating an unmissable experience for at least three generations of fans. _______ By Mirna Wabi-Sabi

  • Editing texts with signs of Pressured Speech

    Pressured speech is a term used in psychiatry to describe one symptom of a manic episode of Bipolar Disorder, Autism, ADHD, BPD and more. It’s when a person speaks with a sense of urgency, without pauses and often incoherently. Many people have witnessed or experienced this, but don’t know there is a clinical term for it. And what makes it trickier to identify is that this phenomenon is not exclusive to people diagnosed with one of those psychiatric conditions. Anyone under a concoction of stressful stimuli may exhibit this symptom, and that isn’t necessarily an indication they are bipolar or autistic. Being in the limelight, for instance, can provoke tone alteration in most people, often resembling pressured speech. Knowing, however, that this may be a medical condition could positively inform our reactions to it. From Mirna Wabi-Sabi Read this article, about pressured speech, in English and in full, at: abeautifulresistance.org Fala Pressionada (ou discurso pressionado) é um termo usado na psiquiatria para descrever um sintoma de um episódio maníaco de Transtorno Bipolar, Autismo, TDAH, TPB e mais. É quando uma pessoa fala com senso de urgência, sem pausas e muitas vezes de forma incoerente. Muitas pessoas já testemunharam ou experienciaram isso, mas não sabem que possui um termo clínico. E o que torna mais difícil a identificação é que esse fenômeno não é exclusivo de pessoas diagnosticadas com uma dessas condições psiquiátricas. Qualquer pessoa sob uma mistura de estímulos estressantes pode apresentar esse sintoma, portanto não é necessariamente uma indicação de bipolaridade ou autismo. Estar sob os holofotes, por exemplo, pode provocar alteração de tom na maioria das pessoas, muitas vezes lembrando uma fala pressionada. Saber, no entanto, que essa pode ser uma condição médica informa positivamente as nossas reações a ela. Como editora, muitas vezes vejo sinais de discurso pressionado na escrita das pessoas. Há um certo nível de desespero para transmitir um ponto de vista, mas o ponto tem muitas camadas e os conceitos são empilhados uns sobre os outros, sem conexões claras entre eles. Os sinais clássicos são frases longas com esses imensos conceitos listados um após o outro. Os parágrafos são intermináveis e não está claro onde a história começou e para onde vai. Todas as pessoas escritoras são suscetíveis a isso, mas o sintoma que se destaca como psiquiatricamente maníaco é a urgência que emana do texto – como se o texto que está sendo escrito e lido devesse, por si só, mudar significativamente principais aspectos do mundo. A urgência por trás da necessidade de que algo mude, ou de que algo seja interrompido, é naturalmente expressa através da fala e, claro, através da escrita como forma de fala. Como podemos distinguir entre um estilo de escrita e um sintoma clínico? Essa distinção é útil para aqueles cujo trabalho é ajudar um escritor a tornar o seu texto mais eficaz – pessoas editoras. Mas também é útil para qualquer um que deseje aprimorar suas habilidades de comunicação. Se o leitor não consegue entender o que está sendo dito em um texto, não é uma escrita eficaz. Como tal, a primeira preocupação é compreender o público. Pessoas com autismo notoriamente encontram dificuldade nisso, mas todas as pessoas devem desenvolver essa habilidade, de uma forma ou de outra, para se comunicarem. Nos episódios maníacos, a comunicação é particularmente prejudicada, em grande parte devido à incapacidade de ler a audiência, mas também devido a “delírios de grandeza”, onde a audiência é vista como inadequada. Há uma linha tênue entre acreditar em você mesmo, ou que seu trabalho como escritora faz uma diferença real no mundo, e um senso patológico de autoestima. Há uma linha tênue entre saber que você pode apresentar novas ideias ao seu leitor, e acreditar que ele é ignorante. Independentemente de onde essa linha seja traçada, responder com reasseguramento e gentileza é crucial ao abordar pessoas que lidam com uma condição psiquiátrica. Isso não significa ceder ou ignorar os problemas. Significa tentar captar a mensagem que estão tentando transmitir e ajudá-los a criar uma estrutura eficaz para apresentar essa mensagem. No processo de estruturação do pensamento, a pessoa editora tem a oportunidade de ajudar alguém que está passando por um episódio maníaco a compreender e se apropriar de seus sentimentos, antes de divulgá-los publicamente. Afinal, é um sentimento que provoca a necessidade urgente de escrever sobre um assunto. Mas, às vezes, o sentimento é tão forte que corremos e cortamos atalhos na narrativa, tornando a estória ininteligível. E quando isso acontece, um texto torna-se ineficaz, causando frustração ou uma bola de neve de emoções negativas. O primeiro passo para garantir uma estrutura narrativa eficaz é um começo, meio e fim. O começo: Onde estamos? O que estamos fazendo? Por que o leitor deveria se importar? No início, situamos o público no o quê. O que está acontecendo no mundo agora que justifica a escrita e a leitura de centenas de palavras? Talvez haja guerra na Ásia Ocidental e a islamofobia seja descarada na cobertura noticiosa tradicional. Alguma estrela pop começou a namorar alguém que traiu a ex-namorada. Uma espécie rara de ave foi observada em um habitat incomum. O artigo pode ser sobre qualquer coisa, então é melhor dizer logo de cara qual é a coisa. Começar um artigo introduzindo um 'o quê' que é muito vago ou amplo como conceito é ineficaz porque os leitores não saberão a resposta para "e daí?", e não saberão por que deveriam se preocupar com o que estão prestes a ler. Pessoas leitoras online têm períodos curtos de atenção. Elas precisam ser lembradas de por que deveriam se importar com frequência. Nesse sentido, escrever sobre a vida, a humanidade, o mundo em geral em um post de blog é escrever sobre nada, na verdade. No que você vai focar sobre a vida, a humanidade ou o mundo, nesse caso específico, é o que deveria ser dito no início. O meio: Evite dizer às pessoas o que é ou não é. Mostre as evidências e deixe-as falar por si. O meio é onde listamos os argumentos e evidências sobre o quê e por que devemos nos importar. É também uma oportunidade para definir termos e, por vezes, conceitos amplos podem ser empregados com o objetivo final de servir como argumento de apoio ao ponto principal do texto. Por exemplo, defina o termo islamofobia e mostre evidências disso na mídia, junto às fontes. Mostre e analise as evidências sobre a vida amorosa da estrela pop. Descreva o habitat em que a ave rara foi encontrada, explique o que significa a sua presença ali e de acordo com quem. Ou seja, o meio é onde você mostra os recibos, mesmo que todos sejam baseados na sua experiência pessoal. Encontrar ou elaborar evidências para o ponto principal que estamos tentando defender é o maior desafio da escrita de não-ficção. Seguido pelo desafio de tecer um fio ligando todas essas evidências em direção a um propósito final. Uma narrativa não-ficcional é essencialmente isso – um conjunto coerente de evidências que leva à afirmação de uma tese. O fim: E agora? Suponha que todas as evidências que apoiam o ponto estejam apresentadas e que a tese tenha sido afirmada. Ao concluir, a pessoa escritora pode apresentar ao público o que espera que o leitor faça com todas as informações que acabou de ler. Tudo o que a audiência obtém ao ler um texto não pode ser previsto, mas um senso de propósito acessível por parte do escritor ainda pode ser compartilhado. Porque se não conseguimos verbalizar qual foi o motivo de escrever o texto, qual foi o motivo de lê-lo? Às vezes, no processo de criação da estrutura, percebemos que estamos fazendo suposições das quais não temos evidências. Ou estamos fazendo suposições sobre o nosso público, como esperar que ele se identifique instintivamente com algo com o qual ele não necessariamente se identifica. Algumas coisas não são óbvias, e é por isso que sentimos necessidade de falar e escrever em primeiro lugar. Pessoas editoras não são psiquiatras ou terapeutas. Como com qualquer outro indivíduo, só podemos fazer o que está ao nosso alcance. E valorizar vozes neurodivergentes está ao nosso alcance. Se não nos esforçarmos para perceber esse valor, estaremos contribuindo para o silenciamento sistemático de grande parte da população. Diz-se que uma em cada oito pessoas lida com uma condição psicológica prejudicial, sendo a fala pressionada não apenas um sintoma identificável, mas também um sintoma de transtornos de humor com alto risco de suicídio. É possível ser honesto e construtivo com feedback sem alienar ainda mais as pessoas neurodivergentes. Ao fazer isso, novas e inesperadas ideias sobre como aprimorar a comunicação podem se tornar um recurso valioso para todas as pessoas que pretendem comunicar ideias através da escrita. ___ Mirna Wabi-Sabi

  • Argentina: Javier Milei’s faux anarchism and blaring support for Israel

    In Argentina, Javier Milei is eager to support Israel’s invasion of Gaza and to follow Trump’s footsteps in moving the embassy to Jerusalem. Showing how Javier Milei’s employment of the term Anarchism is nonsensical doesn’t take much effort, but nonsense is highly electable in our era. For an anarchist to run for president, he would be seeking a position he doesn’t believe should exist, and would be ideologically committed to not doing the job. As Milei campaigns and wins his bid in Argentina, he is, however, committed to doing a job as head of state, despite calling himself an anarchist. The commitment is to instate the freest of capitalist markets and keep the government as small as possible – without his own job seizing to exist. This means, out with regulations and ministries, in with USD stocks and security forces – to protect private assets. How can an ironclad relationship with the USA and Israel, which are his first confirmed international trips since the election, help him achieve that? Read the article in English, in full, here. O falso anarquismo de Milei e seu apoio estrondoso a Israel Mostrar como o uso do termo Anarquismo por Javier Milei é absurdo não exige muito esforço, mas o absurdo é altamente elegível em nossa era. Para um anarquista concorrer à presidência, ele estaria buscando um cargo que não acredita que deveria existir, e estaria ideologicamente comprometido em não fazer o trabalho. À medida que Javier Milei faz campanha e vence a sua candidatura na Argentina, ele está, no entanto, empenhado em fazer um trabalho como chefe de Estado, apesar de se autodenominar anarquista. Seu compromisso é instaurar o mais livre dos mercados capitalistas e manter o governo o menor possível – sem que o seu próprio emprego deixe de existir. Isso significa acabar com regulamentos e ministérios, e exaltar stocks em dólares americanos e as forças armadas – para proteger bens privados. Como uma relação inquebrável com os EUA e Israel, que são as suas primeiras viagens internacionais confirmadas desde as eleições, pode ajudá-lo a alcançar esses objetivos? A estratégia de Milei para gerar riqueza e conter a inflação é privatizar tudo, e isso já sacudiu a bolsa de valores nos EUA. Segundo a Reuters, o seu plano de vender a YPF, a empresa petrolífera nacional, já fez com que suas ações subissem 40% desde a vitória eleitoral. “A YPF é a maior empresa petrolífera da Argentina e supervisiona o desenvolvimento da Vaca Muerta, a segunda maior reserva de gás de xisto do mundo e a quarta maior reserva de óleo de xisto.” A dolarização da Argentina tornará esse tipo de venda ainda mais conveniente para os estrangeiros. Ao mesmo tempo, a privatização desses bens públicos estabilizará a dolarização. Pelo menos é nisso que Milei está apostando, e ele precisa que funcione por vários motivos. Um deles é que a YPF está sob escrutínio judicial pela forma como foi nacionalizada em primeiro lugar. Uma sentença de 16 bilhões de um tribunal dos EUA paira sobre a cabeça da empresa devido à “apreensão” de ações de investidores minoritários em 2012. Outra razão pela qual Milei precisa que esse plano funcione é que a Argentina é o país que mais deve dinheiro ao FMI no mundo. Se investimento do FMI, cujo objetivo é ajudar “países de baixo rendimento” a permanecerem ativos no mercado capitalista global, fracassou, será que entrar de cabeça no mercado dolarizado e privatizado funcionará como solução? Quando se trata de conflitos na Ásia Ocidental, a discussão sobre o petróleo é um clichê ultrapassado. Mas se há fumaça, temos que pelo menos considerar a possibilidade de que também há fogo. A escalada dos ataques à Palestina levantou preocupações sobre os preços e o fornecimento global de petróleo. Se o Irã, “o quarto maior fornecedor de petróleo da OPEP”, se envolver (ainda mais) nesse conflito, e, digamos, os EUA forem encorajados a decretar sanções, seria pertinente começar a conceber um plano para lidar com a diminuição do volume de petróleo que está circulando. A revista Time publicou um artigo no final de outubro argumentando que as sanções ao petróleo iraniano são a chave para a “paz” no “Oriente Médio”, estimando que as vendas de petróleo constituem 70% das receitas do governo do Irã. Enquanto isso, Israel tem debatido o potencial de extração de quantidades significativas de xisto betuminoso há algum tempo, uma vez que se acredita que 15% do território israelense esteja em leitos desse xisto. Talvez não seja uma coincidência que o novo presidente da Argentina queira reforçar a sua relação com Israel enquanto tenta livrar-se da YPF, que já foi descrita como “a jogada de xisto mais atraente fora dos EUA”. A relação política e econômica entre a Argentina e Israel não começou com Milei. Perón já tentou conquistar os EUA através de acordos com Israel. Assim, ele acreditou que “remover[ia] o estigma” de que a Argentina tinha se tornado um porto seguro para nazistas após a Segunda Guerra Mundial, enquanto também abriga a maior população judaica da América Latina. Desde então, Israel forneceu equipamento militar à Argentina antes e durante a Guerra das Malvinas contra a Grã-Bretanha, o que se argumenta ser devido à animosidade extrema de Menachem Begin com o mandato britânico da Palestina. Hoje, Milei está ansioso para apoiar a invasão de Israel em Gaza e para seguir os passos de Trump na mudança da embaixada para Jerusalém. Mas mesmo antes da sua vitória, a empresa nacional de água de Israel, Mekorot, já tinha recebido “influência significativa” sobre como os recursos hídricos são atribuídos em várias províncias da Argentina. Depois de ver como essa empresa abordou o abastecimento de água à Palestina, muitos argentinos estão indignados não apenas com a presença dessa empresa no seu próprio país, mas também com o que ela tem feito no exterior. No Brasil, quando Bolsonaro abanou uma bandeira israelense num protesto, os representantes da Confederação Israelita do Brasil (Conib) foram rápidos a rejeitá-la como representativa da posição política da diáspora judaica no país em geral. Não está claro se o mesmo pode ser dito sobre a população judaica argentina. Mas uma coisa é certa: o fanatismo de Milei com Israel não tem nada a ver com o anarquismo, e tudo a ver com o seu amor implacável pelo capitalismo norte-americano. Me parece que ele instrumentaliza a religião para atingir objetivos econômicos, e isso muito provavelmente será às custas de argentinos de todas as religiões, enquanto ele agita sua motosserra da austeridade. As ideologias anarquistas e libertárias visam combater o controle governamental sobre a sociedade, mas o anarquismo nunca significou que esse controle caísse nas mãos de uma instituição ainda mais problemática – o mercado global de ações. É por isso que, historicamente, o anarquismo se desenvolveu em resposta à direção insustentável que a industrialização capitalista tomava no século XIX (em direção à pobreza generalizada). Ao se inspirar no fato de que várias civilizações indígenas prosperaram sem o capitalismo e o Estado, ficou claro para os anarquistas que outro mundo é possível. Acelerar na direção de um capitalismo industrial sem regulamentação é bastante contrário aos princípios do anarquismo, porque apenas agrava a questão da desigualdade econômica. Inegavelmente, a Argentina está numa situação financeira difícil e o seu novo presidente planeja resolvê-la com uma versão ainda mais extrema do sistema financeiro que não deu certo até agora. Como uma personalidade televisiva com ideias econômicas explosivas, Milei conquistou os corações de um eleitorado que está ansioso para preservar o status quo capitalista. Talvez essas ideias não sejam tão explosivas ou inovadoras como ele as faz parecer, são apenas uma tentativa desesperada de proteger um sistema de longa data que não tem dado sinais de funcionar. ____ Escrito por Mirna Wabi-Sabi, fundadora e editora-chefe da Plataforma9. Fotografado por Alisdare Hickson, sob a licença Attribution-ShareAlike (CC BY-SA 2.0)

  • The introduction to 'A History of the Iranian Women's Rights Movement', by Donya Ahmadi

    Iranian women have a rich and long-standing legacy of political activism. The origins of the Iranian women’s movement can be traced back to the emergence of independent women’s groups and periodicals during the constitutional revolution of the early twentieth century. Despite women’s active presence and contributions to global political developments of the past century, contemporary historical narratives, by and large, remain characterized by gender-blindness. This book problematizes the systemic sidelining of women’s causes and contributions, not only in the field of historiography, but in Iranian politics at large. It shows that throughout the twentieth century, women’s bodies repeatedly emerged as sites of political contestation while their causes were simultaneously instrumentalized and erased from the masculinist political debate. It ultimately posits that the gendering of history constitutes a vital first step towards developing an Iranian intersectional feminist agenda. Introduction: Women in Contemporary Iranian Activism On International Women’s Day on 8 March 1979, only weeks after the victory of the revolution that overthrew the Shah, thousands of Iranian women marched the snowy streets of Tehran. Disillusioned with the new revolutionary council’s dubious and discriminatory stances towards women, they took to the streets to demand the preservation of their meagre but hard-earned rights and chanted ‘In the dawn of freedom, women have no freedom’. The images of masses of women protesters, many of whom had previously marched the streets in support of the revolution, shocked the world as they rapidly circulated media outlets across the globe. What had fueled this spontaneous expression of collective anger was a series of direct attacks on women’s rights launched by the new regime which included the suspension of an important piece of family legislation that had improved women’s divorce and reproductive rights, and the barring of women from becoming judges. The final nail in the coffin was hammered a day before the march, when Ayatollah Khomeini pronounced that women civil servants should wear the hijab in their place of work. The events of International Women’s Day of 1979 marked the beginning of a long and ongoing struggle for gender equality in post-revolutionary Iran. The seeds of this resistance, however, had been planted nearly seven decades before, a fact that is often historically overlooked. The majority of hitherto historical writings on contemporary Iran have, in fact, failed to account for the important role played by women’s activism in shaping modern Iranian politics and society. Writing gender and women back into the history of Iranian mobilization highlights Iranian women’s long legacy of political activism. It builds on and contributes to an existing body of work by women historians who have embarked on the essential task of combatting the ‘gender-blindness’ which characterizes not just contemporary historical narrations of Iranian activism but the field of historiography in general. Gendering historicization cannot be achieved through the mere annexing of women’s names, stories, and images to the existing male-centric historical narratives. Rather, it requires the re-introduction of gender as a category of analysis from the onset, in a way that fundamentally transforms historicization itself (Najmabadi, 1996). By tracing the origins of the Iranian women’s movement in the constitutional revolution of the early twentieth century, an overview of women’s major political activities throughout various stages of political development in contemporary Iran takes form. Meanwhile, the coercion and cooptation periods of the women’s movement under the Pahlavi I and II eras respectively cannot be overlooked. By closely examining the role and position of women in political opposition groups of the revolutionary period and their subsequent activism and repression in the years following the 1979 revolution, a common thread is traced through all major political developments of the past century. The promises and pitfalls of the women’s movement carry lessons for the future of feminist activism within and outside Iran. A history of the women’s movement in Iran Afsaneh Najmabadi once aptly referred to the general model of historicization in contemporary Iran as one of “Great Men and Grand Ideas” (1996: 102). Much has been written about Iran’s modernization from above since the early 1900s as well as its grassroots histories of conscientization and political activism. These historical narrations are heterogenous and often-times contested in their claims, reflecting ideologies and standpoints from all over the political spectrum. What unites these diverse historical plots, however, is the systemic and effective downplaying, and at times complete erasure, of the role of women (in particular rural, tribal, and working-class women) and their political claims from the collective national memory, rendering modern Iranian historiography centralist, elitist, and undeniably masculinist. (This is an excerpt from the book A History of the Iranian Women's Rights Movement) Get a copy 'A History of the Iranian Women's Rights Movement' here

  • Thai Water Magic and Prosperity Religion

    Thailand is a unique and proud country. Its languages and spirituality stem from a particular intersection between Pali, the sacred language of Theravada Buddhism, and Sanskrit, the sacred language of Hinduism. The Thai monarchy is prominent, and a focus on wealth emanates from not just the culture as a whole, but specifically from people’s spiritual devotion. Any tourist in Thailand is prone to get “templed-out”; there are so many temples, of all sizes and in every corner, that, even in short trips, a foreigner may feel like they’ve had enough and have lost track of which ones they’ve visited. These temples, which are often newly built and thoroughly maintained with white paint and gold leaf, are by no means made for the foreign gaze. In fact, non-practitioners should be made to feel like intruders, surrounded by locals worshipping passionately. This Thai paradigm thoroughly deconstructs the dominant perception in the West that spiritual and material riches are at odds with each other, that all wealth (or a desire for it) is a reflection of soul-less capitalism. It seems to me that the expat community in Thailand is largely composed of white men who married Thai women. The issue of sex tourism, in combination with a newly instated lift on weed criminalization, gives some spots of Bangkok a vivid red-light Amsterdam vibe. And even though there is widespread religious conservatism perceiving these expressions of drug-use and sex-entertainment as taboo, the vision of wealth and material prosperity somehow trumps other aspects of religious morality. Perhaps wealth and prosperity are significant parts of Thai devotion, and are not necessarily at odds with other spiritual practices and beliefs. Temples have safes, there is no shortage of gold, and both money and gold leaf are ritualized. This, in itself, is far from unusual to anyone who grew up witnessing Catholic devotion, and the ornate set-up of cathedrals. But what stood out to me, due to my fascination with mini ponds, is the amount of expensive water features in public spaces. “Water plays an important role in many religions” (page 5), and the idea of holy water is familiar enough to Christians. But in Thailand, water features seem to go beyond the realm of temple; they have a personal function, and are implemented at every opportunity. Ceramic potted ponds with gorgeous (and pricey) water lilies, water pumps for fountains, reflecting pools etc, are everywhere. Not to mention city-wide festivals, which are all about throwing water at everyone and everything on the streets. Thai tradition clearly observes water in a particular way. When inquiring about why so many entrances of establishments have small but lavish water features, people explain it in different ways. Expats will say it’s just pretty, or it comes from Feng Shui. Some locals will say that, traditionally, it was common to have water available for people to drink during drought season, or for people to wash their feet before entering the house. And some will say frankly – it is something that attracts wealth. A 2022 paper from Naresuan University, named “Water” in the Regime of Thai Traditions and Rituals, describes this observance of water as stemming from “great” and “little” traditions – “great” as in from Buddhist and Hindu scriptures, and “little” as in from farming and ancestry. Obviously, farming requires water, but rice farming, in particular, requires flooding. Rice doesn’t need flooded land to thrive, but it does thrive in it while other plants don’t. So, historically, this staple of the Thai diet has informed Thai culture and how it approaches the ebbs and flows of drought and rain seasons; the comings and goings of water as a practical approach to prosperity and abundance. The Isan people of northern Thailand, for instance, are said to consecrate water in a ritual for rice growing (page 116). Water, in Thai tradition, as it observes Buddhist and Hindu scriptures, symbolizes “the medium to connect this worldly to the sacred world”. Water is a Goddess named Phra Mae Thorani, who is portrayed in the logos of water distribution companies all over Thailand and of the country’s oldest political party. Water is also where Nagas live (page 30), mythical beings which protect treasures, among other things. According to ancient Thai legend, snakes, as the animist representation of these deities, are not to be feared but to be admired. Though they may represent danger when angered, they may also grant wishes of wealth and prosperity. This is perhaps the most apt representation of a bifurcation in wealth seeking – prosperous agency, or exploitative greed. Nagas can bring you rain, and it will either water your crops or flood your home; a reminder to always nurture a righteous heart when seeing riches. Alongside water and its fauna, flora seems to hold tremendous spiritual significance in Thai folklore. Aquatic flowers such as the lotus (Nelumbo nucifera) and the water lily (Nymphaea) are also symbolic in both Buddhism and Hinduism, and they are named the same in Thai (ดอกบัว). Water lilies, in particular, can be widely seen in ceramic potted ponds surrounding temples, shrines, royal buildings, and even store fronts in Thailand’s major cities, usually accompanied by small beta fish, which are native to the country. None of these water features, with or without fish, seem to have mosquito larvae; they sometimes have tadpoles, snails or backswimmers (when they are not chemically treated or are mechanical fountains). A pink cultivar of the Nymphaea, native to Thailand, is named after Nang Kwak, the goddess of fortune. This “Beckoning Lady has long been used by low-level merchants and vendors, and is the one charm whose initial meaning lay with the market” (page 365 of the article The Sacred Geography of Bangkok's Markets). In this research, the author describes ‘mercantile spirituality’ as nothing new, though its popularity has increased in recent decades. A modern ‘prosperity religion’ shows that, in light of a rapidly expanding capitalist landscape, spirituality, folklore and tradition are not at odds with modernity. Thai culture shows how animism and polytheism are contemporary spiritual practices by definition. In the West, where monotheistic religions have brutally instated themselves as the norm, paganism is so often framed as of the past, and its practitioners reduced as historical reenactors. But framing Buddhism as a replacement of paganism, for instance, is completely irrelevant and inadequate when observing the civic religion of Thailand. The amalgamation of Thai folklore, Buddhism and Hinduism is anything but waned in the face of rampant metropolization. There is nothing inherently contradictory about bringing these spiritual traditions and beliefs into the realm of contemporary capitalist societies, in fact, they may be a lifeline in the soullessness of major cities. Mirna Wabi-Sabi Mirna is a Brazilian writer, site editor at Gods and Radicals and founder of Plataforma9. She is the author of the book Anarcho-transcreation and producer of several other titles under the P9 press.

  • Capitalism in the Digital Era of Language Models

    "It’s hard to accept that we are trying to make a living within a global market that’s a Casino. Instead, it’s easy to subscribe to business gurus and generic finance tips that don’t address the fundamental question of how to achieve an authentic and fulfilling existence in this world." By Mirna Wabi-Sabi Companies are constantly trying to be at the vanguard of digital marketing and, every day, a new business strategy is launched. The endurance of Capitalism relies on our belief that our financial endeavors will be successful if we put in the hours and learn to utilize all these digital tools, which are constantly changing and multiplying. Search Engine Optimization (SEO) has been the darling tool of digital marketing for the past few years, until it was, since 2019, proverbially replaced by BERT, a Google language model which relies less on keywords and terms by interpreting more context. But by the time a tool is democratized (meaning, made widely accessible), it in essence ceases to be effective. The capitalist market, just like google searches, needs the competition for limited top spots. Continue reading this piece, in english, at: A Beautiful Resistance Empresas sempre procuram estar na vanguarda do marketing digital e, a cada dia, uma nova estratégia de negócio é lançada. A sobrevivência do capitalismo depende da crença de que os nossos empreendimentos serão bem-sucedidos se dedicarmos muitas horas e aprendermos a utilizar todas essas ferramentas digitais, que estão em constante mudança e multiplicação. O Search Engine Optimization (SEO) tem sido a ferramenta queridinha do marketing digital nos últimos anos, até ser, desde 2019, proverbialmente substituído pelo BERT, um modelo de linguagem do Google que depende menos de palavras-chave e termos, interpretando mais o contexto. Mas quando uma ferramenta é democratizada (ou seja, tornada amplamente acessível), ela, em essência, deixa de ser eficaz. O mercado capitalista, assim como as pesquisas no Google, precisa da competição por lugares limitados no topo. Essa corrida para aparecer no topo da 1ª página de uma busca no google é interessante, pois ou você precisa se inserir em uma tendência pesquisável, ou fabricar uma. De qualquer forma, não é um processo científico fiável onde os contributos garantem o resultado, embora o mito da meritocracia capitalista se baseie na crença de que seja. Na realidade, o sucesso de um empreendimento comercial é uma aposta que requer muito investimento inicial, antes de haver (e se houver) algum retorno. No pôquer, a pessoa jogadora precisa começar colocando dinheiro no jogo. Depois disso, há um cálculo cuidadoso das probabilidades de vitória e como lidar com essas probabilidades dependendo do adversário e da equidade do jogador. Só porque existe cálculo de probabilidade não significa que não seja uma aposta, e o mesmo vale para o marketing digital e o sucesso de um empreendimento capitalista. Quanto mais dinheiro o empreendimento tiver para entrar no jogo, maior será a probabilidade de os cálculos eventualmente darem lucro e também da sorte acontecer. É difícil aceitar que nos esforçamos para ‘ganhar a vida’ num mercado global que é um Casino. Em vez disso, é fácil abraçar ideias de gurus de negócios e dicas financeiras genéricas que não abordam a questão fundamental de como alcançar uma existência autêntica e gratificante nesse mundo. Quando acreditamos que existe uma fórmula e que o sucesso é todo mérito pessoal, é mais provável que continuemos tentando reproduzir o que vimos funcionar para os outros, e isso está dentro da categoria de seguir tendências. Pesquise no Google como ser relevante no Google (Language Models) O modelo BERT é aquele que prevê o final da sua frase no Gmail. Se você digitar “Como vo”, a tecla ‘tab’ adicionará “cê está?”, e “Espero”, ‘tab’, “que sim”, etc. Os resultados dessa função de preenchimento automático de texto não são apenas previsíveis e pouco originais, mas também nem sempre são factuais. As pesquisas do Google, que utilizam esse modelo, interpretam o contexto e também prevêem e geram conteúdo com base em enormes conjuntos de dados. Para ter uma classificação elevada em uma pesquisa com esse método, precisamos ser um acompanhamento previsível de um termo chave ou pergunta feita no Google. O que acabamos obtendo é uma grande quantidade de conteúdo e empreendimentos comerciais que aproveitam uma onda de pesquisas populares – todos eles competindo por um lugar de destaque. Aqui você encontrará muito clickbait e, em geral, produtos e conteúdos pouco originais, que seguem uma fórmula de marketing digital para assuntos que já provaram ser populares. Um exemplo disso pode ser visto na dica da “Amazing Money Marketer” Sherri Norris, sobre como ganhar 90 mil vendendo cadernos através do Amazon KDP. Nesse reel, Sherri mostra como um caderno preto vendeu 6 mil unidades por cerca de 15 dólares, e, com uma “matemática simples”, podemos ver que a pessoa faturou (6000x15) 90k. Em seguida, ela explica como criar um PDF no Canva, carregá-lo no Amazon KDP e acumular riqueza. Seu cálculo não leva em conta a parcela considerável dos lucros que vai para a Amazon, para impressão, envio e manuseio. Acima de tudo, não leva em conta o fato de que, sem um investimento inicial considerável em marketing, você simplesmente não venderá um único exemplar, enterrado sob um mercado hipersaturado de cadernos na Amazon. Isso foi apontado por pessoas nos comentários, que tentaram e falharam, e a solução apresentada a eles foi “você tem que alterar sua estratégia de SEO”, ou “Faça uma pesquisa na internet sobre como comercializar livros de baixo conteúdo do KDP”. Para empreendimentos de acompanhamento de tendências que seguem essa lógica, isso significa que não existe uma ciência exata para se destacar na multidão ou permanecer relevante no longo prazo. Mais importante ainda, essa lógica não aborda a realidade de que, para ganhar dinheiro, precisamos já de ter tempo e dinheiro. Nas próprias palavras de Sherri Norris, em seu aviso de isenção de responsabilidade em letras miúdas em seu “site”: “Conforme estipulado por lei, não podemos e não oferecemos nenhuma garantia sobre sua capacidade de obter resultados ou ganhar dinheiro com nossos cursos, eventos, programa de afiliados ou treinamentos em vídeo gratuitos. A pessoa comum que compra qualquer informação sobre “como fazer” [“how to”] obtém pouco ou nenhum resultado.” (ênfase adicionada.) Existem várias contas que se descrevem como “ajudando pessoas comuns a ganhar dinheiro online” ou “em casa”, muitas com o mesmo texto de isenção de responsabilidade. Esses gurus da renda passiva estão espalhados pela Internet, apenas os de maior destaque enfrentam consequências jurídicas. A tendência Stanley Quencher Tumbler No Brasil, a Croácia só é pesquisada no Google no contexto de jogos de futebol. Otimizar as pesquisas de uma publicação sobre um terremoto naquela região implicaria reestruturá-la como clickbait – ou, de alguma forma, fabricar demanda para o tema de terremotos nos Balcãs. Quando se trata de produto, ser o único do gênero só é uma vantagem quando um número suficiente de pessoas o conhece e o procura. Não há maneira mais segura de estar no topo de uma pesquisa no Google do que ter milhares de pessoas pesquisando algo que só você fornece. A questão é como levar as pessoas a fazer isso. A mania do Stanley Quencher Tumbler é um exemplo extremo de como fabricar demanda por um produto que apenas uma empresa oferece. Embora o conceito de garrafa térmica não seja exclusivo da Stanley, eles conseguiram aumentar o desejo do público por uma versão que só eles fornecem. O resultado é uma explosão de tendência do tópico “Quencher” no Google (ou um aumento impressionante nas pesquisas de termos relacionados como “Stanley” e “Tumbler”) de novembro de 2023 até hoje, para um produto que foi lançado em 2016. Alguns atribuem esse fenômeno a uma colaboração com o site The Buy Guide (TBG), que, segundo suas fundadoras, foi criado em oposição à tendência de influenciadores do Instagram. As três mães do lar brancas transformaram seu hobby de comprar presentes online em um empreendimento de sucesso, porque estavam “cansadas de ver pessoas perfeitas e fotogênicas vendendo produtos de uso diário no Instagram”. Essas mulheres meio que lideraram esse estilo particular de influência, que rejeita as personalidades ultra curadas das influenciadoras nas mídias sociais, em favor de postagens elegantes e bem pesquisadas centradas em produtos. A colaboração da TBG com a Stanley desencadeou uma tendência que alguns dizem ter saído do controle. Há violência e crime nas lojas quando novas cores são lançadas nos EUA, as redes sociais estão inundadas de colecionadores ávidos e os copos da Stanley já estão surgindo nas praias e bares brasileiros. Nem a Stanley nem a TBG seguiram um guia de marketing “como fazer” (“how to”) para alcançar vendas como essas. Ambos foram inovadores nos seus respectivos campos de produtos e serviços, mas isso por si só não explica o seu sucesso. Eles também estavam na vanguarda de uma nova estratégia de marketing. A Stanley se autodenomina a inventora da garrafa de aço térmica a vácuo em 1913, mas o conceito da garrafa térmica a vácuo foi desenvolvido por James Dewar na Escócia algumas décadas antes. Só em 2020 é que o novo presidente da Stanley, Terence Reilly, implementou claramente a estratégia de marketing do seu tempo na Crocs – utilizando “criadores de gosto” (“tastemakers”) para aumentar a demanda por uma estética de marca única. Hoje em dia, tastemakers podem ser encontrados no TikTok, e é por isso que ele deu um carro novo para uma TikToker. Essa cultura empresarial é descrita por uma funcionária como “oportunismo visionário”, onde uma oportunidade de tendência é encontrada em territórios ainda não explorados. O oportunismo visionário requer dinheiro. Um empreendedor já precisa ter dinheiro para investir em testes de estratégias de marketing que ninguém experimentou antes. Para pessoas sem dinheiro para esse investimento inicial, “how to’s” e SEO, nas palavras da Amazing Money Marketer, “obtêm pouco ou nenhum resultado”. Essas ferramentas são uma espécie de folclore que transmite os costumes capitalistas à próxima geração. Mas, como vimos nas tentativas fúteis de criminalizar a negociação com informações privilegiadas (insider trading), o mercado global não é apenas mais uma aposta do que uma ciência, é uma aposta fraudulenta. Será que esses contos e costumes deveriam continuar a ser preservados? O sucesso de um negócio, tal como a estabilidade do mercado global, não se baseia na fiabilidade dos modelos linguísticos e na previsibilidade da demanda do consumidor. Baseia-se no capital inicial, cálculos de aposta e muita sorte. O fato de que o capitalismo ainda é descrito como o único sistema que funciona, onde o sucesso financeiro se baseia apenas no mérito, parece uma tentativa desesperada de enxergar ordem no completo caos e incerteza do nosso mundo moderno. ____ Mirna Wabi-Sabi é fundadora e editora-chefe da Plataforma9, autora dos livros Anarco-Transcriação e Finge Que Isso é um Celular.

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