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Como editar a escrita de pessoas no espectro do autismo

Atualizado: 20 de out. de 2023

Por Mirna Wabi-Sabi
espectro do autismo em livros e textos

Para aqueles de nós que trabalham editando a escrita dos outros, uma das primeiras lições é que cada pessoa que escreve lida com as edições de maneira diferente e é útil ser flexível na abordagem do feedback. Na minha carreira, já aconteceu que a escrita de alguém e a resposta às edições me fizeram suspeitar que a pessoa poderia estar no espectro do autismo, mas nunca há necessidade de confirmar um diagnóstico leigo, apenas de adaptar sua abordagem como seria feito com qualquer outro indivíduo escritor.

Recentemente, no entanto, alguns escritores me procuraram com textos sobre estar no espectro, e isso me levou a identificar alguns padrões e a organizar algumas das minhas ferramentas de edição. Esta informação pode ser útil para aqueles que já sentiram vontade de abandonar um projeto porque observaram esses sinais, mas os interpretaram como confusão, hostilidade ou inexperiência.

Espectro do autismo:

Sinal 1–Prolixo

Quando uma passagem curta não é clara e um editor pede uma explicação, o texto volta com algumas páginas extras, que não necessariamente abordam o problema original.

Possível causa:

A prolixidade extrema como resposta a um pedido de clareza pode ser um sinal de que a pessoa escritora está insegura sobre a sua capacidade de se fazer entender, muitas vezes até para si mesmo.

Ferramenta:

Nesse caso, não há necessidade de abandonar o projeto porque ficou muito longo e ainda mais confuso do que o primeiro rascunho. Converse com o indivíduo escritor e chegue a um acordo sobre qual é o ponto principal do artigo.

Com isso em mente, remova as passagens, frases ou parágrafos que fogem do ponto principal. Ao retirar essas camadas, você verá que há uma narrativa por baixo.


Sinal 2–Recuar

Às vezes, em resposta a uma editora pedindo uma explicação, um escritor recua, dizendo “deixa pra lá, não quero mais escrever ou publicar”.

Possível causa:

A frustração com os desafios de tentar se conectar com um público pode levar qualquer escritor a um caminho de dúvida misturada com aborrecimento. Para alguém no espectro, esse sentimento pode ser amplificado, fazendo o indivíduo querer desaparecer.

Ferramenta:

Assegure ao escritor que essa frustração é uma resposta natural ao processo de escrita e que seu trabalho como editor é ajudar a construir uma ponte entre o trabalho e o público. Em seguida, forneça exemplos de explicações (seja tão criativo quanto quiser em suas sugestões). Dessa forma, você inicia uma sessão de brainstorming, inspirando o indivíduo escritor a apresentar sua própria explicação.


Sinal 3–Diário

Alguns textos soam como páginas de um diário. É quando um indivíduo que escreve começa muitas frases com a palavra “eu”, a narrativa dos eventos é muito linear e há dificuldade em dar o salto de sua experiência pessoal para uma mais universal.

Possível causa:

O estilo narrativo de “Eu fiz isso, depois fiz aquilo. Portanto, isso é o que eu fiz” pode ser um sinal de que o indivíduo está tendo dificuldade em se colocar no lugar de outra pessoa. Nesse caso, na pele da pessoa leitora que pode estar se perguntando: “e daí, o que isso tem a ver comigo?”

Ferramenta:

Incentive o escritor a evitar iniciar frases/parágrafos com a palavra “eu” ou “isso”. Dê exemplos de como fazer isso, tornando o objeto o sujeito da frase. Faça a pergunta: “para uma pessoa leitora que não tem essa experiência específica, como isso se aplicaria a ela?”


Sinal 4–Prosa

Talvez a escrita esteja estruturada de maneira incomum – parágrafos extremamente longos, incapacidade de separar temas e organizar esses parágrafos, ou quebras de linha e pontuação estranhas.

Possível causa:

Visão geral do texto confusa e falta de estrutura são sinais de que a escrita está acontecendo como um fluxo de consciência que não prioriza a compreensão da pessoa leitora ou o acesso ao conteúdo. Esse tipo de escrita está associado aos já mencionados sinais Prolixo e Diário, e mostra que o indivíduo escritor está tentando esclarecer o conteúdo para si mesmo.

Ferramenta:

As mesmas ferramentas usadas para Prolixo e Diário podem ser usadas aqui, com a adição de abertura para abordagens inovadoras de estrutura. Se o ponto principal do artigo for claro, ser flexível para acomodar o uso instintivo da estrutura da pessoa escritora pode ser útil. Tais como, poesia em prosa, quebras de linha rítmica e assim por diante (eu, pessoalmente, encorajaria a academia e seus profissionais a serem mais flexíveis quando se trata disso).


Claro que nem todo mundo que é propenso a alguns desses comportamentos como pessoas que escrevem está no espectro do autismo. Mas entender que esses comportamentos podem ser abordados de maneira eficiente é útil para todos nós. Habilidades de comunicação são coisas que todos nós temos que aprender, e muitas vezes temos dificuldade nisso.

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