Fala Pressionada (ou discurso pressionado)
é um termo usado na psiquiatria para descrever um sintoma de um episódio maníaco de Transtorno Bipolar, Autismo, TDAH, TPB e mais. É quando uma pessoa fala com senso de urgência, sem pausas e muitas vezes de forma incoerente. Muitas pessoas já testemunharam ou experienciaram isso, mas não sabem que possui um termo clínico. E o que torna mais difícil a identificação é que esse fenômeno não é exclusivo de pessoas diagnosticadas com uma dessas condições psiquiátricas. Qualquer pessoa sob uma mistura de estímulos estressantes pode apresentar esse sintoma, portanto não é necessariamente uma indicação de bipolaridade ou autismo. Estar sob os holofotes, por exemplo, pode provocar alteração de tom na maioria das pessoas, muitas vezes lembrando uma fala pressionada. Saber, no entanto, que essa pode ser uma condição médica informa positivamente as nossas reações a ela.
Como editora, muitas vezes vejo sinais de discurso pressionado na escrita das pessoas. Há um certo nível de desespero para transmitir um ponto de vista, mas o ponto tem muitas camadas e os conceitos são empilhados uns sobre os outros, sem conexões claras entre eles. Os sinais clássicos são frases longas com esses imensos conceitos listados um após o outro. Os parágrafos são intermináveis e não está claro onde a história começou e para onde vai. Todas as pessoas escritoras são suscetíveis a isso, mas o sintoma que se destaca como psiquiatricamente maníaco é a urgência que emana do texto – como se o texto que está sendo escrito e lido devesse, por si só, mudar significativamente principais aspectos do mundo.
A urgência por trás da necessidade de que algo mude, ou de que algo seja interrompido, é naturalmente expressa através da fala e, claro, através da escrita como forma de fala. Como podemos distinguir entre um estilo de escrita e um sintoma clínico? Essa distinção é útil para aqueles cujo trabalho é ajudar um escritor a tornar o seu texto mais eficaz – pessoas editoras. Mas também é útil para qualquer um que deseje aprimorar suas habilidades de comunicação.
Se o leitor não consegue entender o que está sendo dito em um texto, não é uma escrita eficaz. Como tal, a primeira preocupação é compreender o público. Pessoas com autismo notoriamente encontram dificuldade nisso, mas todas as pessoas devem desenvolver essa habilidade, de uma forma ou de outra, para se comunicarem. Nos episódios maníacos, a comunicação é particularmente prejudicada, em grande parte devido à incapacidade de ler a audiência, mas também devido a “delírios de grandeza”, onde a audiência é vista como inadequada.
Há uma linha tênue entre acreditar em você mesmo, ou que seu trabalho como escritora faz uma diferença real no mundo, e um senso patológico de autoestima. Há uma linha tênue entre saber que você pode apresentar novas ideias ao seu leitor, e acreditar que ele é ignorante. Independentemente de onde essa linha seja traçada, responder com reasseguramento e gentileza é crucial ao abordar pessoas que lidam com uma condição psiquiátrica. Isso não significa ceder ou ignorar os problemas. Significa tentar captar a mensagem que estão tentando transmitir e ajudá-los a criar uma estrutura eficaz para apresentar essa mensagem.
No processo de estruturação do pensamento, a pessoa editora tem a oportunidade de ajudar alguém que está passando por um episódio maníaco a compreender e se apropriar de seus sentimentos, antes de divulgá-los publicamente. Afinal, é um sentimento que provoca a necessidade urgente de escrever sobre um assunto. Mas, às vezes, o sentimento é tão forte que corremos e cortamos atalhos na narrativa, tornando a estória ininteligível. E quando isso acontece, um texto torna-se ineficaz, causando frustração ou uma bola de neve de emoções negativas.
O primeiro passo para garantir uma estrutura narrativa eficaz é um começo, meio e fim.
O começo:
Onde estamos? O que estamos fazendo? Por que o leitor deveria se importar?
No início, situamos o público no o quê. O que está acontecendo no mundo agora que justifica a escrita e a leitura de centenas de palavras? Talvez haja guerra na Ásia Ocidental e a islamofobia seja descarada na cobertura noticiosa tradicional. Alguma estrela pop começou a namorar alguém que traiu a ex-namorada. Uma espécie rara de ave foi observada em um habitat incomum. O artigo pode ser sobre qualquer coisa, então é melhor dizer logo de cara qual é a coisa.
Começar um artigo introduzindo um 'o quê' que é muito vago ou amplo como conceito é ineficaz porque os leitores não saberão a resposta para "e daí?", e não saberão por que deveriam se preocupar com o que estão prestes a ler. Pessoas leitoras online têm períodos curtos de atenção. Elas precisam ser lembradas de por que deveriam se importar com frequência. Nesse sentido, escrever sobre a vida, a humanidade, o mundo em geral em um post de blog é escrever sobre nada, na verdade. No que você vai focar sobre a vida, a humanidade ou o mundo, nesse caso específico, é o que deveria ser dito no início.
O meio:
Evite dizer às pessoas o que é ou não é. Mostre as evidências e deixe-as falar por si.
O meio é onde listamos os argumentos e evidências sobre o quê e por que devemos nos importar. É também uma oportunidade para definir termos e, por vezes, conceitos amplos podem ser empregados com o objetivo final de servir como argumento de apoio ao ponto principal do texto. Por exemplo, defina o termo islamofobia e mostre evidências disso na mídia, junto às fontes. Mostre e analise as evidências sobre a vida amorosa da estrela pop. Descreva o habitat em que a ave rara foi encontrada, explique o que significa a sua presença ali e de acordo com quem. Ou seja, o meio é onde você mostra os recibos, mesmo que todos sejam baseados na sua experiência pessoal.
Encontrar ou elaborar evidências para o ponto principal que estamos tentando defender é o maior desafio da escrita de não-ficção. Seguido pelo desafio de tecer um fio ligando todas essas evidências em direção a um propósito final. Uma narrativa não-ficcional é essencialmente isso – um conjunto coerente de evidências que leva à afirmação de uma tese.
O fim:
E agora?
Suponha que todas as evidências que apoiam o ponto estejam apresentadas e que a tese tenha sido afirmada. Ao concluir, a pessoa escritora pode apresentar ao público o que espera que o leitor faça com todas as informações que acabou de ler. Tudo o que a audiência obtém ao ler um texto não pode ser previsto, mas um senso de propósito acessível por parte do escritor ainda pode ser compartilhado. Porque se não conseguimos verbalizar qual foi o motivo de escrever o texto, qual foi o motivo de lê-lo?
Às vezes, no processo de criação da estrutura, percebemos que estamos fazendo suposições das quais não temos evidências. Ou estamos fazendo suposições sobre o nosso público, como esperar que ele se identifique instintivamente com algo com o qual ele não necessariamente se identifica. Algumas coisas não são óbvias, e é por isso que sentimos necessidade de falar e escrever em primeiro lugar.
Pessoas editoras não são psiquiatras ou terapeutas. Como com qualquer outro indivíduo, só podemos fazer o que está ao nosso alcance. E valorizar vozes neurodivergentes está ao nosso alcance. Se não nos esforçarmos para perceber esse valor, estaremos contribuindo para o silenciamento sistemático de grande parte da população. Diz-se que uma em cada oito pessoas lida com uma condição psicológica prejudicial, sendo a fala pressionada não apenas um sintoma identificável, mas também um sintoma de transtornos de humor com alto risco de suicídio. É possível ser honesto e construtivo com feedback sem alienar ainda mais as pessoas neurodivergentes. Ao fazer isso, novas e inesperadas ideias sobre como aprimorar a comunicação podem se tornar um recurso valioso para todas as pessoas que pretendem comunicar ideias através da escrita.
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