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- Guerra e abuso contra populações vulneráveis
As Forças Armadas em guerra contra o povo. AS FORÇAS ARMADAS A guerra não é a mesma que era no século passado. Ela evoluiu para formas híbridas , e encontrou novas maneiras de silenciar a má conduta, e fatos em geral. Podemos não ver as armas ou os soldados, mas todos os aspectos de nossas vidas são afetados pela função que essas pessoas exercem. Toda vez que viajamos ou compramos comida importada; na verdade, sempre que nos identificamos como tendo uma nacionalidade, é por causa deles. Instituições militares de defesa são a razão pela qual Estados e Governos existem , porque as fronteiras importam, porque falamos uma certa língua, e porque não podemos simplesmente botar uma barraca na praia. Mesmo assim, a presença militar pode se tornar ainda mais proeminente no cotidiano e durante tempos supostamente pacíficos. A possibilidade de um regime militar no Brasil tem flutuado em conversas desde antes da presidência de Bolsonaro. Ele notoriamente defende o regime militar, foi um oficial durante a ditadura, e disse que não aceitaria o resultado da eleição presidencial se não vencesse – Recentemente admitindo em entrevista que cogitou intervenção militar em 2022. Em seus 27 anos de congresso, o Rio de Janeiro foi alvo de 36 operações das Forças Armadas (FA). A primeira no Rio, em 92, também foi a primeira do país. Os casos em que as FA são usadas para controlar a população brasileira são chamadas de GLO’s, “Garantia da Lei e da Ordem.” Do total direcionado à 'violência urbana,' 43% aconteceram no Rio. Enquanto a maioria dos outros estados tiveram 0, sete estados tiveram 1, e três tiveram 2 – O Rio teve 10 (sem contar 1 operação que teve 15 fases). Agora que ele foi presidente, ficamos atentos com a hiper militarização do Rio se espalhando pelo Brasil. A presença militar no âmbito civil traz algumas implicações previsíveis para a segurança pública e a "lei e ordem." Os militares são empregados como forças policiais, a percepção pública sobre o crime sofre uma mudança drástica, e a privatização dos presídios torna tudo extremamente lucrativo. MISOGINIA As mulheres foram introduzidas nas FA apenas recentemente . Houve pressão para que isso acontecesse durante a presidência de Dilma, já que ainda não havia mulheres de alto escalão na área. Quando Dilma sofreu impeachment, em 2016, a esposa do homem que a substituiu foi elogiada por ser “ bela, recatada e do lar. ” Esses são métodos midiáticos passivos-agressivos de manter as mulheres no âmbito doméstico (e, neste caso, fora do 'mais alto cargo' do país), mas também existem métodos mais agressivos, visíveis nas figuras consistentemente alarmantes de crimes de ódio contra mulheres e pessoas LGBTQIA+ . Incluir mulheres nas Forças Armadas pode não resolver o problema do sexismo, mas pode provocar mudanças rápidas e significativas na vida de mulheres marginalizadas que inevitavelmente interagem com as FA, além de impactar a cultura interna da instituição. A desmilitarização da assistência humanitária e dos recursos de saúde deve ser o próximo passo. Para assegurar os efeitos duradouros dos esforços de saúde pública, é essencial acabar com a situação de desabrigo, garantindo moradia estável e acesso a água encanada para todos. A primeira solução é apenas mais rápida porque já foi discutida por algumas décadas, e a mudança mesmo assim acontece lentamente. Enquanto as outras soluções infelizmente não são comumente consideradas no discurso público. Em 2011, foi publicado um estudo sobre a inserção de mulheres na Marinha. Esta é a opinião de um oficial sobre como esta mudança tem sido: – Relato na página 90 de um artigo de 2011 chamado “ Políticas Públicas de Gênero: A inclusão das mulheres na Marinha do Brasil como militares. ” Foi difícil escolher uma citação para analisar; este artigo está repleto de comentários machistas velados como não-sexistas porque são apresentados como elogios ou como simples fatos. Por exemplo, as mulheres trouxeram “uma maior importância a arrumação e a limpeza” para o ambiente de trabalho (p. 91), como se uma grande coisa que as elas tivessem a oferecer fosse sua inclinação para o cuidado doméstico. Essa atitude ignora completamente a conjuntura sócio-política que levou as mulheres a verem as tarefas domésticas como sua responsabilidade (muitas vezes não remunerada), enquanto o homem sai para fazer o trabalho real (pago e relevante). Elas fazem tudo com mais “docilidade” e “carinho” (p. 89), são mais estudiosas e caprichadas, não podem ouvir palavrão, e homens devem evitar ter conversas de “muito baixo calão” perto delas. Além de acharem a presença de mulheres de maiô “constrangedora” durante a educação física. Mulheres oficiais e praças são especificadas como “mulheres,” enquanto “homem” é omitido e implícito. Isso grifa o masculinismo como se fosse tradicional. Ele especifica a masculinidade apenas quando descreve o sexo como algo que os 'homens' procuram. Dessa forma, tratando o sexo como algo que os homens querem das mulheres, simbólico da cultura do estupro. “Extraconjugal” e “lá fora” são termos alarmantes que exigem uma pesquisa urgente e detalhada sobre como esses homens tratam as mulheres locais nas regiões onde se instalam para trabalhar. Se a cultura do estupro emana de uma linguagem que é considerada tradicional, não podemos ignorar como ela revela uma atitude que pode se materializar a qualquer momento. Infelizmente, não há figuras ou dados referentes a má conduta sexual por parte de soldados e oficiais, apenas incontáveis histórias de maridos traindo suas esposas. FALTA DE DADOS Há falta de dados sobre agressão sexual, assédio e outros ataques morais de gênero cometidos por membros das FA. Em um relatório de uma reunião da Comissão de Gênero do Ministério da Defesa ( CGMD ) em abril de 2015, uma representante da Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto afirma que não há registro formal de casos de agressão porque o “'sistema' tende a abafar fatos ocorridos.” Logo em seguida, um representante da Secretaria de Organização Institucional expressa preocupação com o objetivo dessa pesquisa de dados. Ele afirma já ter feito a pesquisa, encontrando um número insignificante de casos, alguns dos quais incluem homens como vítimas. Portanto, sua preocupação é com a tendência ao “denuncismo,” simplesmente ignorando comentários de mais de uma pessoa dizendo que não há figuras sobre o tópico (e nenhuma outra explicação clara do motivo para isso). Este ano, uma advogada naval me explicou que esses números não existem porque são considerados informações pessoais processadas pelos tribunais; dentro das FA, apenas o pessoal de Inteligência tem esses relatórios. Em outras palavras, relatórios e números existem, mas em sigilo . Nesse tópico, o diálogo público é formal, estéril e falso, especialmente quando admite que essas reuniões são uma resposta à pressão diplomática para alcançar padrões internacionais de igualdade de gênero. O comunicado de encerramento de um ministro descreveu a Suécia negando acordos diplomáticos com a Arábia Saudita e a Liga Árabe por causa dessa questão. Ou seja, não se deve prejudicar as relações diplomáticas com países ocidentais por atrasos nessa questão, e a islamofobia é um véu conveniente para o machismo. A mesma reunião gerou um debate sobre o uso da palavra “equidade,” já que alguns temiam que isso pudesse ser interpretado literalmente; como a expectativa de 50/50 na participação de homens e mulheres nas FA. Isso seria tão ruim? Para eles, sim, porque isso significaria substituir a meritocracia por algum tipo de cota. Como se as mulheres tivessem a opção de entrar nas FA, já que não há concursos o suficiente disponíveis. E quando tem, como se elas tivessem a motivação pessoal de serem moldadas a um ambiente violentamente masculino, onde nem mesmo as instalações são projetadas para acomodá-las . A CGMD ainda garante que os espaços femininos sejam concedidos apenas dentro de um sistema meritocrático ( 2017 ). O que isso significa não é que as mulheres possam entrar quando são qualificadas e valiosas, mas sim quando elas efetivamente alcançam os padrões já existentes (masculinos) que foram estabelecidos pelas instituições militares há 200 anos. A meritocracia nada mais é do que uma desculpa para marginalizar, nesse caso, mulheres. Nos registros de reuniões de 2014 já se revelam confrontos entre “conversas sobre mulheres” versus “conversas com mulheres.” Um coronel anunciou o workshop Proteção das Mulheres nas Operações de Manutenção da Paz da ONU , sobre como proteger uma população feminina local durante missões de “paz.” No entanto, não havia mais vagas disponíveis para membros da CGMD, o que levou uma mulher, membro da Escola Superior de Guerra a estabelecer a porcentagem embaraçosamente baixa de mulheres na instituição educacional (18%). Geralmente, esses baixos percentuais são atribuídos ao fato de que as mulheres só se inscrevem para o Exército voluntariamente, enquanto para os homens brasileiros, a inscrição é obrigatória. Todas as carreiras do Exército são voluntárias; os homens não têm obrigação de servir mais do que 1 ano, e esses 9-12 meses serem obrigatórios para os homens apenas garante a predominância masculina na área. COLONIALISMO “As mulheres ribeirinhas são oportunistas, e vão atrás da pensão. Então use camisinha e não a deixe em qualquer lugar – dê descarga.” Um oficial da Marinha me relatou este conselho dado aos recém-chegados nos 9º, 6º e 4º distritos navais – Sobre descartar evidências de má conduta sexual enquanto a trabalho no norte do país. Esse oficial também me disse que viu colegas de trabalho gastarem mais de 20 mil reais em um fim de semana “fazendo festa” com mulheres locais. Alguns vivem vidas extravagantes em áreas carentes e gostam de chamar atenção por ter dinheiro. Esses distritos incluem a população mais vulnerável do país e também com o maior número de pessoas indígenas; inclui os estados Amazonas e Pará, onde o rio Amazonas se encontra com o oceano. Lá, as populações Ribeirinhas são consideradas indígenas ou quilombolas. Principais quartéis-generais e bases da Marinha do Brasil (Wiki-Commons Rússia) A Marinha, como uma instituição criada em um período explicitamente colonial, ainda hoje legitima que homens explorem sexualmente mulheres 'não-brancas,' indígenas e da diáspora africana. Mesmo se uma agressão sexual fosse denunciada, o que é raro, nem o agressor nem as autoridades responsáveis conseguem interpretá-la de uma perspectiva que não fosse tradicionalmente patriarcal e colonial. “É um conselho que mostra a normalização do abuso sexual, muitas vezes no uso do poder sobre as mais vulneráveis. A desumanização dessas mulheres em descrevê-las como oportunistas desconsidera como suas condições de vida foram profundamente moldadas pela exploração contínua.” – Jördis Spengler, socióloga. O workshop “Proteção das Mulheres em Operações de Paz da ONU” de 2014 parece não ter sido frutífero até agora. Essas reuniões, grupos ou siglas institucionais fizeram avanços significativos no bem-estar das mulheres neste século, ou elas existem apenas como uma fachada das Relações Internacionais exibida para o Ocidente? PREPOTÊNCIA A Cartilha Maria da Penha descreve um aspecto relevante de um agressor como “prepotência.” Membros das FA tendem a ser atraídos pelo cargo exatamente pelo poder e influência que ele oferece. Isso se dá não apenas devido à artilharia pesada intimidadora, mas também no sentido de reputação, dinheiro, e acesso a espaços exclusivos e imponentes. No Brasil, as FA não garantem apenas a soberania do Estado, elas são usadas para controlar a mesma população que se propõe proteger. Uma parte significativa da polícia já é militarizada, mas também contamos com as Forças Armadas para fazer o trabalho em ocasiões especiais, as GLO’s. Em muitos casos, essas operações visam prevenir a população de acessar terras e recursos; de ocupar certos espaços. GLO’s são usadas contra a população nas favelas, comunidades indígenas, quilombos e protestos. A soberania da favela e sua população; O acesso dos povos indígenas e quilombolas a florestas, manguezais, rios e outras fontes de sustento espiritual, cultural e prático; A manifestação de opiniões e frustrações por meio de protestos urbanos; Esses são conceitos considerados ameaças ao Estado e justifica declarar guerra contra brasileiros(as). O artigo 331 do código penal garante o direito dessas autoridades de criminalizar o desacato. Como o desacato é um conceito abstrato, é fácil para policiais e soldados prenderem quem os antagoniza de alguma forma. Não obedecer às ordens significa um ataque contra o “funcionamento” do Estado, resultando em até 2 anos de detenção. A não ser que o caso tenha motivações políticas, o que pode ser classificado como terrorismo. São eles que detêm o maior poder e influência — a própria definição de prepotência. Apesar de isso não constituir prova de um crime, revela a urgente necessidade de conscientização de gênero para os integrantes das instituições de defesa. Além disso, reflete uma cultura presente nas Forças Armadas, e alterar essa norma é um desafio considerável em meio a tanta rigidez. O Centro de Estudos Estratégicos de Defesa (CEED), uma iniciativa multinacional um tanto independente, começou a realizar uma pesquisa sobre mulheres no setor de defesa na América Latina por volta de 2015. Hoje ainda não está claro qual foi o resultado e a disposição do Ministério da Defesa do Brasil de participar. Talvez as questões da pesquisa já implorassem por significantes mudanças. A seção 5 do formulário, dedicada ao Ambiente de Trabalho, pergunta sobre a existência de um escritório dedicado ao bem-estar das mulheres, apoio a vítimas de violência doméstica, registro de casos de assédio e programas de educação sexual. Dos oficiais que conheci, nenhum está ciente da existência desses programas, desta pesquisa, ou se quer foram expostos ao tópico em geral. Nos últimos 6 anos , o site do CEED deixou de existir. DESPEJO O que acontece depois do despejo de uma comunidade favelada? O entorno da comunidade Sem Terra do Parque União no complexo da Maré lida com instabilidade e despejos desde os anos 80. Apesar da área ter sido aterrada e loteada com o intuito de fornecer moradia acessível para comunidades vulneráveis, a vulnerabilidade persiste. Os despejos e demolições de construções irregulares tem qual objetivo? E o que acontece depois que famílias são despejadas? Para o despejo mais recente, de 2024, o motivo dado pelas autoridades e reproduzido pela mídia é que os prédios auxiliavam o tráfico de drogas na lavagem de dinheiro, e eram de “luxo” apesar de serem irregulares no papel. Ou seja, quem estava morando ali, nas estruturas inacabadas, não eram pessoas vulneráveis, pois tinham acesso a uma piscina – portanto, supostamente pessoas coniventes com ou do tráfico. Essa narrativa é criada para justificar a utilização do Exército Brasileiro contra a própria população do país, já que, para eles, trata-se de Crime Organizado e não de cidadãos brasileiros vulneráveis que merecem direitos básicos como moradia e saúde. Meio ano depois, muitas das 40 famílias desabrigadas continuam sem ter para onde ir, nas ruas da própria comunidade. Afundados em indignidade e obviamente sem acesso aos luxos supostamente disponibilizados pelo Crime Organizado, as brigas irrompem entre si, enfraquecendo o potencial para um movimento de resistência organizado. É impossível se organizar contra a narrativa construída pelas autoridades para justificar a marginalização quando essa marginalização é tanta que nem a sobrevivência no dia a dia é garantida. Poucos metros da comunidade Sem Terra, o Núcleo de Apoio as Operações Especiais , uma base militar, se instalou para dar suporte a operações de segurança, monitoramento e combate ao tráfico de drogas na região. A presença da base militar, com a promessa de proteção e ordem, acaba sendo mais uma fonte de tensão para os moradores da área. Muitas vezes, a violência policial se intensifica, com operações que resultam em ações indiscriminadas e a violência estrutural que perpetua a marginalização dos residentes. A narrativa de segurança pública, associada ao combate ao tráfico de drogas, se sobrepõe à realidade de uma população que está buscando apenas um meio de vida digno, longe da criminalização e da violência. A falta de políticas públicas efetivas de moradia e saúde para a população mais pobre cria um ciclo vicioso, onde o despejo e a violência se tornam o cotidiano. E quando as pessoas são forçadas a sair de suas casas, muitas vezes, sem qualquer tipo de suporte, elas se veem em uma luta constante pela sobrevivência. Com a desagregação das comunidades e a falta de uma rede de apoio, a resistência se torna cada vez mais difícil. O Estado, ao invés de atuar como um facilitador da inclusão social, se posiciona como um agente de controle e repressão, intensificando a desigualdade já existente. O despejo da comunidade Sem Terra do Parque União não é um caso isolado. Ele faz parte de um ciclo contínuo de remoções forçadas, que acabam por destruir as bases de solidariedade que, muitas vezes, são a única forma de resistência que os moradores possuem. O movimento de resistência, em vez de crescer, se fragmenta em meio ao caos social imposto pela ausência de políticas públicas efetivas. Diante disso, é necessário que a sociedade olhe para essas questões de forma crítica, reconhecendo que a verdadeira segurança e inclusão não se encontram na repressão, mas em ações concretas de acesso à moradia digna e saúde. Só assim, comunidades poderão se reorganizar e lutar por seus direitos de maneira efetiva, sem serem constantemente despojadas de tudo o que têm, inclusive da integridade de seus próprios corpos. CONCLUSÃO Não podemos aguardar um consenso unânime sobre o Patriarcado e o Estado serem problemáticos antes de começarmos a aplicar soluções. Sempre houve e continuará a haver uma resistência significativa à mudança. O enfraquecimento das estruturas hegemônicas parece assustador para aqueles que não conseguem conceber suas vidas ou o mundo sem elas. Isso se resume a uma completa falta de criatividade e a um privilégio suficiente para que uma série de desculpas nos mantenha em um caminho destrutivo. Perder a crença na meritocracia pode transformar a sociedade em uma onde a palavra “marginalizado(a)” não carregue um significado negativo. A perda do direito dos homens de perpetuar linguagem e comportamento misóginos resulta das mulheres conquistando espaço . Isso pode se refletir em mudanças significativas na atitude militar em relação às mulheres em áreas vulneráveis. Eu sinceramente não pensava em chegar a outra conclusão além de fortalecer minha oposição à ideia de alguém ingressar nas Forças Armadas . No entanto, será que as mulheres precisam de mais pessoas ditando o que elas devem ou não devem fazer? Talvez esta seja uma situação parecida com a do casamento gay; primeiro, precisamos legalizá-lo para a comunidade LGBTQIA+ antes de podermos questionar a instituição como um todo. O direito deles de serem ofensivos e “tradicionalmente masculinos” não é mais importante do que o nosso direito de ser independente, de não ser assediada, humilhada, assassinada, estuprada, comprada, e tudo que não queremos ser. Apenas a partir daí, podemos começar a nos tornar tudo o que queremos ser. __________________ texto: Mirna Wabi-Sabi Baseado em uma pesquisa publicada originalmente em 2019.
- Bolsonaristas não apoiam Israel por respeito aos judeus e sim por desprezo aos árabes
Há anos vemos Bolsonaro e seus apoiadores abanando bandeiras israelenses e estadunidenses, clamando pela vitória deles na aniquilação que continuam a incendiar na Palestina. Esse fenômeno já foi explicado teologicamente por muitos, com base nos ensinamentos bíblicos evangélicos. Mas essa explicação é insuficiente. Acreditar numa revelação sobre o retorno de Jesus, o julgamento das nações, e a chegada do “fim” não é nada em frente ao desdém emitido em direção ao mundo árabe pelo ocidente cristão. Ato bolsonarista em Copacabana - 21 de abril 2024 - Fotos por Fabio Teixeira Não custa muito lembrar que o desprezo que o mundo cristão tem ao ‘outro’ não é apenas direcionado ao árabe. Há desprezo ao africano, chines, indiano, árabe… e ao povo judeu também. Será coerente acreditar que a criação de Israel como nação foi mesmo uma vontade de Deus? Ou um fruto desse ódio, da supremacia racial enraizada em nossa sociedade cristã? Sim, é uma questão de raça, mais do que de religião. Apoiar um povo que exibe comportamentos culturais e valores supostamente mais ‘alinhados’ com os nossos, o que na Europa chamam de propensão à ‘integração,’ é código para apoiar uma sociedade ‘superior’ em detrimento de outra, que é ‘inferior.’ Na realidade, a pressuposição dessa inferioridade, ou atraso evolucionário de certos povos, é um dos traços mais tóxicos de nossas sociedades cristãs. E esse traço é muito mais latente do que qualquer conhecimento ou entendimento teológico ou histórico das pessoas sobre qualquer coisa. Não importa que nem todos os árabes sejam muçulmanos, não importa se sabemos em qual ano estamos no calendário islâmico, não importa que tanto muçulmanos quanto judeus traçam sua linhagem de Abraão, ou que a maior nação muçulmana do mundo nem árabe é. O que importa para esse eleitorado é o avanço da dominação Europeia no mundo, porque se acredita que os europeus (e descendentes deles) são os humanos mais evoluídos. Assim vemos nos Estados Unidos, onde o ‘americano’ de verdade é o descendente europeu. No Brasil, onde o brasileiro de verdade é o de alguma descendência europeia visível. E, assim, judeus tem sido usados por eles como linha de frente na guerra de dominação Europeia em seu avanço para o oriente. Na leitura teológica sobre o apoio cristão ao estabelecimento da nação judaica em Israel, o avanço de dominação Europeia no oriente significa acelerar o retorno de Jesus e o início do fim do mundo. Nesse ponto, o povo judeu será salvo baseado em sua disposição de… deixar de ser judeu. Será que as pessoas que acreditam que o sionismo, e o que está sendo feito com a Palestina, são vontades de Deus também acreditam que a Alemanha nazista apoiou a vontade de Deus, pelo simples fato de (também) ter influenciado decisivamente o estabelecimento do estado judeu? Fobia ao islã e racismo contra os árabes são motivações praticamente unânimes em meio de diversas divergências religiosas, de interpretação de passagens bíblicas, dentro do cristianismo. É possível olhar a situação em que estamos agora e enxergar uma evolução da humanidade, em comparação com milhares de anos de história religiosa? Será que os brancos, europeus não são capazes de barbarismo? Ato bolsonarista em Copacabana - 16 de março 2025 - Fotos por Fabio Teixeira Estamos presenciando a barbárie, um legado cultural, geopolítico, e religioso de milhares de anos, sim. Mas estamos, acima de tudo, testemunhando um paradigma de desintegração de valores espirituais que deram vida a todas essas religiões em primeiro lugar. É Ramadã. Pelo mundo inteiro, muçulmanos estão observando seus valores humanos e religiosos, praticando, na medida do possível, caridade, disciplina, e honrando esse presente divino que é estar vivo graças a Allah, Alhamdulillah . Enquanto isso, a barbárie continua, se exacerba, e os bolsonaristas levantam bandeiras em completo declínio espiritual e obliteração de valores humanos. Nós de nações cristãs, que de um lado afirmamos defender valores de liberdade, justiça, penitência e perdão, testemunhamos membros de nossas comunidades se deleitando na brutalidade da chacina. Em face dessa desgraça, eu, pessoalmente, boto fé no mundo árabe, em sua integridade humana e disciplina religiosa para forjar seu caminho de resistência. وَقَـٰتِلُوهُمْ حَتَّىٰ لَا تَكُونَ فِتْنَةٌۭ وَيَكُونَ ٱلدِّينُ لِلَّهِ ۖ فَإِنِ ٱنتَهَوْا۟ فَلَا عُدْوَٰنَ إِلَّا عَلَى ٱلظَّـٰلِمِينَ ١٩٣ “E combatê-los até que não haja mais perseguição e a religião seja para Allah. Mas se eles cessarem, que então não haja agressão, exceto contra os malfeitores.193” (2:193 Alcorão) _ Mirna Wabi-Sabi, Plataforma9.
- O problema com o termo “pré-colombiano”
A era pré-colombiana significa, essencialmente, tudo o que veio antes da chegada de Cristóvão Colombo, portanto, uma experiência humana nas Américas livre da influência europeia. Originalmente publicado 20 de setembro de 2023, na Le Monde Diplomatique . Ruínas Mayas em Tulum, antiga cidade portuária maia, no México (Aaron Huber/Unsplash) Pesquisadores frequentemente se referem às antigas civilizações das Américas, ou aos povos indígenas em geral, como “pré-colombianas”. A era pré-colombiana significa, essencialmente, tudo o que veio antes da chegada de Cristóvão Colombo, portanto, uma experiência humana nas Américas livre da influência europeia. O termo é usado para evocar uma abordagem científica e prática do tempo em vários campos de estudo: história, biologia, botânica, geografia, antropologia, política e a lista continua. Mas por que enquadrar o tempo dessa maneira? Qualquer experiência humana antes de 1492 corresponde a um período de pelo menos 15 mil anos, em 2 continentes. Do tempo total coberto pelo “pré” e “pós” colombiano na existência humana, o “pós-colombiano” equivale a no máximo 3% do total. Como tal, esse sistema parece ainda mais arbitrário do que “antes” e “depois” de Cristo. Nenhum desses homens está objetivamente no centro de qualquer medida de tempo. Tecnicamente, o termo “ pré-colombiano ” não está incorreto. Também não é incorreto descrever a Ditadura como “Pré-Mídia Social”, mas por que fazer isso se não estamos falando sobre Mídia Social? A única razão para definir algo como “não europeu” é centrar a Europa na conversa, e isso não contribui no alcance de precisão nas análises de eras. Também não contribui no alcance de precisão nas análises de experiências indígenas, porque é vago demais para ser útil. Pelo menos útil para qualquer produção intelectual que vise a objetividade e o respeito aos seus sujeitos. Se o tema da investigação são os Incas, por exemplo, categorizá-los genericamente como “existentes antes da chegada dos europeus” não demonstra respeito. Por essa medida, os maias e astecas também eram pré-colombianos, mas de regiões e épocas bastante diferentes. Incontáveis civilizações, povos, etnias e línguas existiam nas Américas antes da chegada dos europeus, e a ampla categoria “pré-colombiana” é uma das características menos notáveis de cada uma delas. Apenas os europeus rotulariam a existência de um povo indígena como “antes de os conquistarmos”. No campo acadêmico da História Humana, que deu origem a esse termo, foram tidos em consideração apenas relatos históricos europeus. Mesmo quando isso começou a ser questionado, em meados do século XIX, por ‘exploradores’ como John Lloyd Stephens, esses povos nativos, e as suas construções ou artefatos, ainda eram descritos como “descobertas”. Essa é talvez a única razão objetiva para usar o termo “pré-colombiano”, para apontar que algo aconteceu ou foi feito antes da descoberta europeia. John Lloyd Stephens é frequentemente creditado como o descobridor de ruínas maias , mas ele dependeu de “ boca a boca ” para chegar até elas, o que significa que alguém lhe disse onde elas estavam. Stephens e a sua equipe não foram descobridores, foram documentaristas que analisaram os documentos históricos reunidos e chegaram à conclusão nada surpreendente de que foram realmente os maias que construíram os monumentos. Ao pensar no legado da civilização maia e no que essas ruínas simbolizam, descrevê-las como “pré-colombianas” é tão informativo quanto dizer “isso não foi construído por nós”. Já foi argumentado que o termo “pré-colombiano” é um esforço de combate ao eurocentrismo , uma vez que diminui a ênfase do papel dele no período. Contudo, mesmo como negação, Colombo, um homem, é colocado no centro. Como pode ser que um homem, ao pisar numa ilha, instantaneamente, e sozinho, ponha fim a uma era de dezenas de milhares de anos? Monumentos magníficos, pirâmides, arquitetura, florestas criadas, tecnologias agrícolas e medicinais, possivelmente 100 milhões de pessoas espalhadas por cerca de 40 milhões de quilômetros quadrados de terra, estão todos colocados à sombra de um só homem. Isso é irreal demais para ser científico. “Embora os dados devam ser puros e diretos, a ciência é feita por pessoas, que nunca são nenhum dos dois.” (Adam Rutherford, em Uma Nova História dos Povos Originários nas Américas ) Platypodium elegans, fotografado por Riccardo Riccio, para o projeto Seeds and Tales. Na botânica, várias espécies de plantas são atribuídas como descritas pela primeira vez pelos europeus. Isso porque o processo de “descrição de espécies”, tal como o conhecemos hoje, é uma invenção europeia – não tem nada a ver com o fato de uma pessoa ter encontrado a espécie pela primeira vez. O Platypodium elegans , por exemplo, nativo do Brasil, está associado a um botânico alemão do século XIX chamado Vogel. Porém, o povo indígena Xavante, considerado uma das “ populações fundadoras das Américas ”, já se referia a essa planta como ‘wede itsaipro’ , ou “árvore com espuma”. A descrição da espécie trata da primeira pessoa que encontra o espécime, que também atua no âmbito da publicação de artigos científicos. Isso significa que várias pessoas, comunidades ou culturas podem muito bem ter tido contato íntimo com as espécies vegetais descritas, durante anos, séculos ou milênios, mas não com publicações científicas em instituições acadêmicas europeias. O conceito de ‘primeira descrição’ de novas plantas trata da construção de um banco de dados que segue um padrão estabelecido em 1735, na Holanda, por um botânico sueco chamado Carl Linnaeus. Ou seja, não se trata de descoberta, mas de consenso para seguir um padrão específico, criado em um local específico por uma pessoa específica. Essa norma pode a qualquer momento ser questionada e o consenso revogado. Na época em que Linnaeus publicou Systema Naturae , ele acreditava que o mundo não abrigaria mais de 10 mil espécies de plantas . Embora o seu método seja interessante e útil, não estava exatamente equipado para sustentar a escala moderna de computação de dados, por isso teve de ser adaptado. Essa adaptação pode, e deve, ser levada mais longe para honrar não só a precisão nas descrições das espécies de plantas, mas também as civilizações que detêm um vasto conhecimento sobre essas plantas, há milénios. Esses povos originários desempenharam um papel no desenvolvimento genético de muitas plantas através de antigas tecnologias agrícolas e da domesticação de culturas, e informações valiosas sobre as propriedades medicinais, dietéticas e culturais dessas plantas não serão mais negligenciadas. Xavante, entre outros, é um nome que deveria ser conhecido e falado sobre tanto quanto, e mais do que Colombo, Stephens ou Vogel. Para isso, deve-se fazer um esforço conjunto para substituir “pré-colombiano” por algo mais específico, como datas, localizações e nomes das civilizações e dos povos originários . A documentação produzida pelas expedições europeias pode muitas vezes ser útil, mas quando aceita sem crítica ou análise, perde-se muito mais conhecimento do que se ganha. _________ Mirna Wabi-Sabi é escritora, editora e fundadora da Plataforma9.
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- P9 | O movimento iraniano pelo direito das mulheres
Livro de bolso bilingue, sobre feminismo iraniano | O movimento iraniano pelo direito das mulheres. Bilingual pocket book on Iranian feminism | A History of the Iranian Women's Rights Movement. Brochure 132 pages 110x180x8mm Farsi-English: ISBN 9786585267045 Portuguese-English: ISBN 9786585267038 A History of the Iranian Women's Rights Movement O movimento iraniano pelo direito das mulheres لاله های سرکش جنبش زنان ایران، از مشروطه تا امروز Bilingual book: English/Portuguese or English/Farsi Historical accounts often bypass this important legacy of the twentieth century Iranian women’s movement, crediting Khomeini’s charismatic leadership as the sole contributing factor to the mass mobilization of women, particularly those from working-class and conservative backgrounds. Reductionist tales, recalling orientalist essentialism, portray Muslim women as passive recipients of politics, who blindly follow the authority of religious men in their pursuit of political power. This book shows that Iranian women have been all but passive victims, and that their political contributions and organizing have been key to any progre ss made on behalf of sociopolitical movem ents in contemporary Iran. About the a uthor Dr. Donya Ahmadi is Assistant Professor of International Relations, Department of International Relations and International Organization at the University of Groningen. ◣ Livro bilíngue: in glês/português brasileir o Relatos históricos, muitas vezes, ignoram esse legado importante do movimento de mulheres iranianas do século XX, creditando a liderança carismática de Khomeini como o único fator que contribuiu para a mobilização em massa de mulheres, particularmente aquelas de origem trabalhadora e conservadora. Cont os reducionistas, que lembram o essencialismo orientalista, retratam as mulheres muçulmanas como recipientes passivos da política, que seguem cegamente a autoridade de homens religiosos em sua busca pelo poder político. Este livro mostra que as mulheres iranianas foram tudo menos vítimas passivas, e que suas contribuições e organizações políticas foram fundamentais para qualquer progresso feito em nome de movimentos socio-políticos no Irã contemporâneo. Sobre a autora Dra. Donya Ahmadi é Professora de Relações Internacionais, Departamento de Relações Internacionais e Organização Internacional da Universidade de Gronin gen. ◣ کتاب دو زبانه: انگلیسی/فارسی منابع تاریخی، معمولاً بر میراث مهم جنبش زنان ایرانی در قرن بیستم چشم بسته و رهبری کاریزماتیک خمینی را، عامل اصلی به حرکت درآمدن تودهی زنان، بهویژه زنان متعلق به طبقات فرودست و خانوادههای مذهبی-سنتی میدانند چنین داستانهای تقلیلگرایانهای، یادآور ذاتگرایی اورینتالیستی هستند که زنان مسلمان را صرفاً مخاطبان منفعل سیاست میدانند. کسانی که کورکورانه از اقتدار مردان مذهبی مدعی قدرت سیاسی پیروی میکنند اما این کتاب نشان میدهد که زنان ایرانی، نهتنها قربانیانی منفعل نبودهاند؛ بلکه فعالیت سیاسی و قدرت سازماندهی آنان در مسیر دستیابی به هرگونه پیشرفتی که در جنبشهای اجتماعی- سیاسی ایران حاصل شده؛ نقشی کلیدی ایفا نموده است درباره نویسنده دنیا احمدی ستادیار روابط بین الملل، دانشگاه خرونینگن ____ A BOUT P9 Plataforma9 is a journ alistic i nitiat ive that publish es article s and pocket books in several languages and in several countries. So far we hav e books in Portuguese, English, Spa nish, Farsi and Indonesian, and we sell in Brazil, United States, United Kingdom, European Union, Austr alia , Mexico, Peru, Argentina and Chile, and also in Indonesia with a partner publisher called Sabate. We also offer editing, media literacy and copywriting services. Our books are the size of a smartphone, made to be portable, and read anywhere. SOB RE A P9 A Plataforma9 é uma iniciativa jornalística que publica artigos e livros de bolso em diversas línguas e em diversos países. Até agora temos livros em português, inglês, espanhol , fársi e indonésio, e vendemos no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Austrália, México, Peru, Argentina e Chile, e também na Indonésia com uma editora parceir a chamada Sabate. Também oferecemos serviços de edição, alfabetização midiática e p rodução de texto. Nossos livr os são do tamanho de um smartphone , feitos para serem portáteis, e lidos em qualquer lugar. A History of the Iranian Women's Rights Movement لاله های سرکش جنبش زنان ایران R$ 39,00 Preço Ver informações Iranian Women's Rights Movement | O movimento iraniano pelo direito das mulheres R$ 39,00 Preço Ver informações A History of the Iranian Women's Rights Movement [digital] R$ 19,00 Preço Ver informações Região MENA A History of the Iranian Women's Rights Movement [DUBAI EDITION] R$ 106,00 Preço Ver informações
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MATA – mini antologias de bolso – P9 Artigos de analise politica, livro de bolso, antologia de teoria política. 2021 2023 2024 Visualização rápida MATA dos minilagos Preço R$ 39,00 Adicionar ao carrinho Visualização rápida MATA bolsonarismo Preço R$ 39,00 Adicionar ao carrinho Visualização rápida MATA bolsonarismo [digital] Preço normal R$ 9,00 Preço promocional R$ 6,00 Adicionar ao carrinho Visualização rápida MATA das bruxas Preço normal R$ 38,00 Preço promocional R$ 29,00 Adicionar ao carrinho Visualização rápida MATA das bruxas [digital] Preço normal R$ 9,00 Preço promocional R$ 6,00 Adicionar ao carrinho